sábado, 26 de setembro de 2009

A Crise Mundial

Por que foi escolhido este tema?
Estive pensando se meu próximo Post tentaria explicar o lado científico da validade de um “Desnewtonianamento” ou se explicaria mais detalhadamente os processos pelos quais isto pode ocorrer.
Ocorreu-me que talvez nenhum dos dois demonstrasse adequadamente a que este Blog se propõe. Toda a coleta de dados e sugestões espontâneas de leitores (até agora apenas os amigos, rs) me levou a crer que nenhuma das duas abordagens, pelo menos neste momento, convenceria ou chamaria suficientemente a atenção das pessoas.
E é neste contexto que resolvi trazer à tona um assunto já mais explorado e conhecido e demonstrar o quanto, mesmo sem que quase ninguém perceba, as leis de Newton (ou mais precisamente o Reducionismo) influi em nossas vidas.
No Post anterior propus um questionamento: por que, afinal de contas, preocupar-nos com esse tal Reducionismo? Se isso (aparentemente) nunca afetou em nada a minha vida?
Bom, o assunto que escolhi como o inicial é a tão falada “crise mundial”. É algo que inegavelmente afeta nossas vidas, disso acredito que ninguém duvide. E, além do mais, é um assunto sobre o qual todos têm algum conhecimento, em maior ou menor nível, mas com certeza têm. Acredito que, após relembrar alguns conceitos e fatos e reforçar outros, todos conseguirão pegar os paralelos entre a origem de toda a crise e o Reducionismo sistêmico pelo qual viemos passando ao longo de séculos.

Resumo do Post:
A crise, basicamente, ocorreu devido a uma crise do setor imobiliário que acabou por deflagrar uma crise de maiores proporções. Ela foi gerada, primariamente, pela manutenção (durante tempo demais) de algumas linhas filosóficas que não são verdadeiras, e que não poderiam mesmo trazer bons resultados (e acredito que se alastraram devido a nosso excesso de ganância, mais discutir isso geraria assunto para mais um Post).
Estas filosofias foram detectadas por vários grandes nomes do mercado financeiro, incluindo George Soros, que publicou suas percepções no livro “O Novo Paradigma para os Mercados Financeiros – A Crise atual e o que ela significa”.
Apesar de ter tido o “insight” de quais problemas geraram a crise e de, inclusive, ter sugerido que talvez o problema dos mercados financeiros não se restrinja apenas a este contexto, mas talvez também a vários outros, ele acaba por não sugerir que uma revisão de conceitos deva ser feita em toda a base das ciências atuais. Mas talvez deva.
E será que encarar o reducionismo de uma outra forma é parte da solução?

Only to the braves:
Overview da crise:
Este assunto já não está mais “na crista da onda” aqui por esses lados (Brasil) como estava há pouquíssimo tempo atrás, mas é algo que ainda estamos vivenciando e, em muitos países, ele ainda é uma realidade muito viva e verdadeiramente dolorida.
Enfim, o que pretendo discutir não é a extensão da crise e nem sua profundidade, até porque, acho que isto já é algo bastante claro e explorado. O que gostaria de abordar é o porquê da explosão da crise.
O que já é um conhecimento mais comum, pois os noticiários repetiram vezes e vezes sem fim, é que: A crise do “subprime” veio junto com uma crise imobiliária (causada por hipotecas desenfreadas e originando os chamados títulos podres) e acabaram derrubando muita gente e muitas empresas; o que por sua vez gerou um grande “problema de liquidez” e, consequentemente, uma crise no mercado geral, o que, obviamente, refletiu no mercado de ações. Tudo isto junto resultou na crise que já conhecemos. Mas a coisa é simples assim? Reconhecidos estes fatores podemos evitar uma nova crise? Re-organizar o setor imobiliário dos EUA é o bastante? Eu creio que não!

Entendendo melhor a crise:
Vamos entender um pouco mais os termos da crise. O que é o subprime? Bom, o prime é um crédito dado a pessoas com histórico de bons pagadores, estes créditos são considerados de “primeira linha”. Os créditos subprime levam este nome pois trata-se de uma modalidade de crédito onde as pessoas não se encontram na faixa anterior, são créditos ditos "de segunda linha"; ou não têm comprovação de serem boas pagadoras ou até mesmo já tiveram problemas em honrar suas dívidas.
Mas, como garantir o pagamento destes empréstimos então? O fato é que os pagamentos não eram (e estavam bem longe) garantidos, mas uma hipoteca (imóvel como garantia) amenizava a situação.
E por que se arriscar tanto? Os EUA têm uma cultura de manutenção da economia através do consumo acelerado. Ao passar por outras crises financeiras (como a “Grande Depressão”, em meados de 1930, algumas crises de setores isolados em meados de 1980 ou a crise da “bolha tecnológica” de 2000) e de outras naturezas (como os ataques de 11 de setembro) os EUA precisaram lançar mão de estratégias não muito seguras (como pôde-se ver ao final da história) para “aquecer o mercado interno”.
E então o que aconteceu? Aconteceu que cada vez mais pessoas, cada vez mais despreparadas para administrar situações adversas e outros imprevistos, tinham cada vez mais crédito. Com este crédito adquiriram mais bens, e entre eles imóveis e ações. Com mais imóveis podiam fazer mais hipotecas, e conseguir mais crédito. E toda esta mecânica retro-alimentada ia muito bem, realmente gerou um aquecimento notável, mas o que poucos esperavam era que a situação podia ser igualmente expansiva (ou até mais) também em seu sentido contrário, ou seja, se o preço dos imóveis cai, seu imóvel vale menos que sua hipoteca. Se sua fonte de lucro virou fonte de gastos, você não quita outras dívidas. Se imóveis passam a não serem pagos, o mercado fica recessivo e desvalorizado. Se os mercados ficam recessivos, as ações começam a cair, e novamente você tem uma fonte de lucro que vira fonte de prejuízos. Com isso o consumo também se retrai. Menos consumo, gera menos empregos, que gera menos dinheiro circulando, que gera inadimplência, que gera desapropriação de imóveis, que gera mais dívidas, que gera desconfiança do mercado e esse efeito dominó não tem fim (caso ninguém haja verdadeiramente sobre ele).

A visão dos economistas:
Os economistas atribuem a crise ao que chamam de “bolhas do mercado”, onde, analogamente às bolhas em um sentido mais tradicional da palavra, um setor do mercado infla, infla, infla, mas em um dado momento estoura!
O empresário, mega-investidor e profundo conhecedor da economia mundial George Soros fez uma detalhada análise dos problemas que geraram estas bolhas, uma bolha no setor imobiliário que, por sua vez, acabou estourando o que alguns economistas chamaram de uma “super-bolha”. Esta análise foi publicada em seu livro “O Novo Paradigma para os Mercados Financeiros – A Crise atual e o que ela significa”, e traz, como alguns dos principais problemas geradores da crise:
- A crença do mercado na existência do “conhecimento perfeito”, onde todos têm dados suficientes para embasar suas ações de maneira satisfatória;
- Junto à crença do conhecimento perfeito, vem também a crença de que esse conhecimento perfeito pode ser isolado de fatores externos e analisado por si só;
- Existe também a falta de entendimento sobre a “reflexividade” do mercado, onde as pessoas, ao mesmo tempo em que tentam entender a situação em que encontram-se inseridos, também tentam mudá-la;
- Soros também relata sua percepção de expansão e contração dos mercados, que foi exatamente o que aconteceu com o mercado imobiliário, expandiu-se através de uma “auto-alimentação” e culminou em uma “auto-destruição”;
- E por último, mas talvez trazendo o maior dos problemas, vem a crença na possibilidade de ser possível criar leis imutáveis e generalistas que descrevam com absoluta certeza o fluxo que as coisas tomarão.

Conclusão:
Ou seja, o que tentou-se fazer com a economia foi:
- Dividi-la em partes menores e mais simples;
- Aplicar leis básicas generalizadas para cada uma delas;
- E então tirar conclusões a partir da “interação presumida resultante” entre as partes do sistema e suas ações (regidas pelas leis básicas).
Isto soa familiar, não?
A profundidade dessas familiaridades serão discutidas no próximo Post!

3 comentários:

Unknown disse...

Foi útil pra quem ainda não tinha entendido completamente a crise, a tal familiaridade ficou claramente demonstrada...

Já o assunto não posso dizer que foi tão interessante quanto o anterior. Vamos acompanhar os próximos posts...

Sugestão pessoal: concentre-se mais na área de exatas do que na área de humanas...

Claro que partindo de um engenheiro essa opinião é suspeita, por isso seria interessante a opinião de outras pessoas, mas claro, sem mudar a personalidade do blog...


Falow! Abraço!


Rodrigo Letang

Fábio Hideki Kawauchi disse...

Este Post realmente foi só para contextualizar o que eu realmente queria dizer, e escreverei no próximo Post.
O que eu quero com este Blog é, exatamente, mostrar que as ciências humanas não estão tão longe assim das ciências exatas, e que as ciências exatas não estão tão longe assim das ciências humanas.
Espero que no próximo Post isto fique um pouco mais claro.
Se eu convencer a você, acho que convencerei a qualquer um... :)
Abraços e continue comentando!

Desmiolando disse...

Muito bem Fábio, gostei da escolha deste tema.
Acredito que, em contrapartida com nosso amigo Letang, hehe, o blog se tornará mais atraente abordando temas relacionados a temas generalistas. Apesar de engenheiro, acredito que assuntos como "relacionamento social" cairiam como uma "luva" para potêncial discussão.
Btw, uma sugestão para o blog seria colocar gráficos/diagramas/fluxogramas/fotos, de forma a tornar assuntos técnicos ou textos longos mais digeríveis.
Bom trabalho, continue produzindo!
Abs!

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