sábado, 28 de novembro de 2009

A Matrix Quântica I

Observação:
Este texto faz parte de uma coletânea (muito) maior que, aos poucos, será elaborada e publicada. Cada texto pode ser entendido separadamente, mas o ideal seria entendê-los dentro do contexto completo. Para facilitar a busca de todos os textos envolvidos, selecione, do lado direito da página, o seguinte tema: “Desnewtoniando: A Matrix Quântica”.
Todos os Posts sobre o tema estarão intercalados em meio aos outros Posts do Blog.


Bom, antes de falar do assunto propriamente dito, seria interessante assistir ao vídeo abaixo.
Trata-se de um vídeo onde há alguns jogadores de basquete com roupas brancas e outros com roupas pretas. Ambos ficam trocando passes e o objetivo é contar quantos passes são trocados entre os jogadores de roupa branca.
Importante: não continue lendo o texto sem antes ver o vídeo!!!





Discussão:
Você provavelmente acabou não percebendo uma parte muito importante do vídeo, certo?
Entre todas as pessoas que conheço e que assistiram ao vídeo, realmente, todas deixaram este detalhe passar (inclusive eu, logicamente). E a propósito, se alguém quiser comentar o resultado do teste nos Comments do Post, será uma ajuda muito bem vinda!
Mas, afinal, por que isso acontece?

Bom, existe uma explicação mais óbvia e simplista: “eu estava prestando atenção nas bolas de basquete, não nas pessoas”. Mas será que esta explicação por si só engloba toda a extensão da “problemática” apresentada?

Tudo bem, tudo bem... este início de discussão pode estar parecendo aquelas propostas de “Best Sellers” oportunistas e sem fundamento, que dão voltas e mais voltas, “floreiam” o texto até não poder mais, mas de concreto não apresentam nada. Entretanto, gostaria de pedir um crédito e solicitar que leiam alguns Posts mais; e, caso os Posts não estejam agradando, digam-me com toda sinceridade.

E, apesar dos riscos de rejeições, gostaria de propor algumas indagações:
- Até que ponto não estamos deixando escapar, em nosso dia-a-dia, momentos, sensações, objetos, fatos ou qualquer outra coisa?
- Até que ponto o que captamos do meio ambiente é uma percepção fiel da “realidade”?
- Vemos o que vemos porque é aquilo que queremos ver (confuso, não?) ou porque é realmente tudo o que existe para ser visto? (Isso é parte do “problema da medida”, da física quântica, apresentado em Posts anteriores).
- Qual a porcentagem de informações que realmente processamos e guardamos (conscientemente)? Quantas formiguinhas (ou qualquer outra coisa) em seu dia-a-dia você vê, mas nem se dá conta?
- Outro fato curioso: experimentos científicos comprovam que às vezes o cérebro “perde” informações por não ter “salvo em memória” um padrão “pré-absorvido” para interpretar alguma eventual informação visual. Qual seria o nível de coisa que estamos perdendo?

Os próximos Posts incluirão nessa “sopa” de indagações um fator que a tornará ainda mais confusa e intrigante. Quão complexa ficaria a interpretação de mundo se, além das tantas coisas que vemos e não entendemos (ou nem mesmo percebemos), acrescentássemos aquilo que é totalmente invisível a nossos olhos? E se tentássemos entender como nosso “corpo” interage com o mundo envolvendo o nível quântico dos átomos???

Aguardem próximos Posts!

domingo, 1 de novembro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Conclusão









Recomendação:

Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.




Resumo do Post:
Chega finalmente ao fim a série de Posts sobre a crise econômica.
Esta seqüência de Posts tinha como objetivos secundários aguçar em quem os lesse a curiosidade a respeito das particularidades (pelo menos as mais superficiais) da física quântica e da economia (em especial sobre a crise financeira).
Porém, este era um objetivo menor, a grande questão que eu gostaria de levantar são os paralelos entre as mais “recentes” reviravoltas da física e as revisões conceituais que acredito serem necessárias em várias outras vertentes do pensamento humano.

O que vejo é que, no passado, os modelos clássicos da física acabaram influenciando de maneira decisiva a forma como pensamos e, principalmente, a forma como classificamos o que é “intelectualmente válido” e o que é “mera crendice” ou “racionalmente pouco embasado”. E agora, que alguns dos “pilares indubitáveis” da física clássica não parecem tão firmemente sólidos quanto antes, vejo que se abre uma brecha para questionarmos: “quão forte é o material que estamos utilizando para construir o alicerce do pensamento humano?”.

Parece que alguma “pequena” coisa abriu no chão uma fenda que parece estar tomando proporções que não podemos mais controlar.

Vejamos os paralelos entre o estremecimento das bases da física clássica e o estremecimento da nossa estrutura de pensamento.

Only to the braves:
É engraçado (ou não)... a física começou a construir seu alicerce na suposição de que havia uma realidade última, indivisível, impenetrável, inquestionável e inexplicável (no sentido de que não requer explicação, Deus quis assim e ponto final). Mas esta realidade, até então última, foi dividida, começa a ser explicada (apesar de ter trazido mais perguntas do que respostas) e agora abre portas para uma infinidade de questionamentos.Ou seja, o que era sólido se desfez, a solidez anterior parece ser agora apenas um ponto de vista.
E é neste momento, em que o material utilizado para solidificar os alicerces da física parece agora não ser tão sólido, que o solo onde pisamos em várias outras vertentes parece estar se tornando desagradavelmente arenoso.
O próprio Einstein teria dito diante de tantas surpreendentes descobertas que, ao se deparar com estas mudanças de ponto de vista, “foi como se o chão tivesse sido arrancado sob nossos pés, sem que se visse, em lugar algum, qualquer base sólida sobre a qual se pudesse construir algo”.
E parece que não é só na física que o chão parece estar se desfazendo.

Recapitulando, os textos foram divididos em:
Parte I: A ilusão do controle
- O conhecimento perfeito
- O estudo de eventos isolados
Parte II: A ilusão da constância
- O Big Bang
Parte III: A ilusão da independência
- A influência da Reflexividade
- As leis imutáveis

Para finalizar esta seqüência de Posts, irei relembrar quais os conceitos envolvidos, na física e na economia, e em seguida colocar minha opinião sobre qual deveria ser a mudança de atitude mediante a constatação obtida.

O conhecimento perfeito:
Na Física:
Não existe a informação perfeita. Existem apenas as probabilidades, as tendências de acontecimentos, as potencialidades de interações, uma “instrinsiquicidade” da incerteza (ok, ok... esta palavra provavelmente não existe).
Na Economia:
Não existe a informação perfeita. Existem apenas as probabilidades, as tendências de acontecimentos, as potencialidades de interações, uma “intrinsiquicidade” da incerteza (não, não errei na escrita, as limitações são realmente iguais!).
Conclusão:
Precisamos nos conscientizar de que realidade é realidade; representação é representação (ou como diriam nossos filósofos do esporte, “clássico é clássico e vice-versa”).
Um mapa de um terreno pode ser extremamente detalhado e extremamente bem desenhado, mas ainda assim será uma representação. É preciso tomar cuidado para respeitar a incerteza intrínseca de certas coisas.

O estudo de eventos isolados:
Na Física:
Nada acontece ou existe por si só. Tudo é fruto de uma seqüência de interações cadenciadas que culminam em um evento observável mas que, por mais que possa parecer isolável e “dissecável” (utilizar somente palavras que existam hoje parece não me estar sendo suficiente), geralmente não o é. Geralmente, para ter uma exata dimensão do “objeto estudado” é preciso entender as interações que levaram à sua existência.
Na Economia:
Eu poderia re-escrever todo o texto acima, como no item anterior, mas deixo ao leitor o trabalho de voltar no texto da física e relê-lo, porém agora pensando no contexto econômico. Provavelmente a identificação será imediata.
Conclusão:
Sempre que olhar para uma coisa, fato, evento, pensamento, processo, forma de pensar ou de trabalhar, é recomendável procurar os eventos que compõe aquele contexto, quais são as interações que levam a ele. Às vezes uma conclusão que parecia perfeitamente sólida mediante um contexto, parece ficar inaceitável quando expandimos o foco observado.

O Big Bang:
Na Física:
Nos mostra a característica dinâmica das coisas, das expansões e contrações que a natureza (lembrando que não é a natureza no sentido ecológico da coisa) nos traz. Nos faz lembrar da transitoriedade a que estamos submetidos. Expansão e contração, evolução e regressão, queda e ascensão, aceleração e contenção, morte e nascimento.
Na Economia:
Um fato importante (e atual, mas não inédito) nos “jogou na cara” esta natureza. O estouro da bolha imobiliária, que acabou causando o estouro de outras bolhas e que, juntas, ajudaram a estourar uma grande “super-bolha”, um... “Big Bang”?.
Conclusão:
A física moderna parece estar se aproximando cada vez mais da forma de pensar sugerida pelo misticismo oriental. Isto exatamente devido à tendência natural destes místicos a entender o equilíbrio que deve existir nas coisas. Filosofia muito bem exemplificada através do Yin e do Yang da cultura oriental.

A influência da reflexividade
Na Física:
As experiências são resultado de interação. Interação entre eventos e interação entre o experimento e o experimentador. Os atos e intenções do experimentador não podem ser isolados, de modo que não há experimento isento de influência, aquilo que obtenho é resultado daquilo que eu decidi que quero obter. Sem atos e sem intenções as medidas não são possíveis, de modo que sem interação a própria experiência deixa de fazer sentido. Não se pode dizer que a experiência é feita assistindo-a de fora, isso porque na física das partículas não há fora e não há dentro, o que existe é um todo integrado e vivo.
Na Economia:
Essa impossibilidade de assistir aos fatos “de fora” também é perfeitamente válida. E a isso George Soros (algumas vezes citado nos Posts anteriores) chamou de reflexividade. O que penso e como ajo muda decisivamente o comportamento do evento estudado; e a mudança do comportamento estudado definitivamente muda a forma como penso e ajo. Já vimos algo semelhante, não?
Conclusão:
Quase sempre que pensamos estar observando eventos isolados e que podemos agir sobre eles sem que eles exerçam uma influência no sentido contrário estamos nos iludindo. As ações que tomamos influenciam naquilo que pensamos estar isolado, e as alterações ocorridas podem exercer influência sobre nós sem que nem percebamos. Na realidade, creio que geralmente percebemos esses “contra-golpes” sim, mas somos tão confiantes de nossa condição de “isolabilidade” que custamos a acreditar que aquilo que nos ocorre é fruto de nossas próprias ações.

As leis imutáveis:
Na Física:
Provou-se que nem sempre é possível utilizar a abordagem simplista em que, conhecendo-se a situação inicial e os parâmetros envolvidos, podemos prever com exatidão o resultado final. E na física moderna isso é quase impossível. Claro que é possível que daqui a algum tempo conheçamos tão bem o mundo quântico que isso volte a ser possível. Talvez hoje só não seja possível devido a algo que ainda esteja além de nossa capacidade de compreensão. Mas, de qualquer forma, o que ficou comprovado com toda a revolução dos últimos tempos é que não se pode superestimar a capacidade humana de dominar as situações, quando menos se espera o chão que parecia sólido pode começar a se tornar arenoso.
Na Economia:
É ou não impressionante o quanto podemos aplicar as últimas lições aprendidas na física nas reformulações que a crise financeira nos tem imposto? E acredito que esta não é a única crise que pode ser amenizada se nos conscientizarmos destas lições, a questão ambiental, por exemplo, é outra que acredito que poderia ser abordada desta forma.
Conclusão:
As nossas aproximações podem nos ajudar (e muito) a tomar decisões e a agir da melhor forma possível, com base no que acreditamos que tenderá a acontecer. Seria impossível tomar decisões do dia-a-dia levando em conta todas as complexidades e nuances da natureza quântica das coisas, de modo que a comparação com a física quântica, mais uma vez reforçando, não visa invalidar tudo o que foi descoberto até hoje, mas apenas tentar mostrar que temos que ser mais humildes com relação à confiança em nossas próprias conclusões (e previsões).

 CONCLUSÃO GERAL:
Quando me veio à mente o insight do quão semelhantes são as revisões conceituais feitas na física e as revisões conceituais que acredito serem necessárias em tantos campos do pensamento humano, elas me pareceram tão gritantes que decidi que deveria registrá-las (mesmo que fosse só para mim mesmo) e, de fato, talvez seja este o motivo de eu ter criado o Blog. Logicamente tinha a intenção de escrever muita coisa mais (e espero ainda escrever), mas creio que a energia inicial para a criação do Blog veio desta constatação.
Acredito veementemente que, a partir deste pensamento inicial, é possível fazer adaptações para a revisão de diversos conceitos. A idéia daqui para frente é publicar idéias em diversas áreas para que esta revisão aconteça. Acredito que não haverá mais nenhuma análise tão aprofundada quanto esta, acredito que esta análise já deu embasamento teórico suficiente para representar a base que utilizarei daqui para frente.
Espero que pelo menos algum dos textos tenha causado pelo menos alguma reflexão para pelo menos alguma pessoa, isso já teria feito valer a pena todas as muitas horas escrevendo (e todas as muito mais horas pensando).
E assim, chega ao fim (ou ao começo) a discussão sobre a “Crise Financeira” x a “Ciência Moderna”.
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