sábado, 17 de outubro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Parte III

Recomendação:
Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.

Resumo do Post:
Neste Post será abordada a ilusão da independência. Na física quântica não se pode falar de independência. Nem no âmbito do Experimento x Experimentador, nem no âmbito dos Resultados esperados x Comportamento real.
Neste ponto a economia apresenta uma notável semelhança com a física (assim como muitas outras ciências). Os pontos onde esta semelhança pode ser percebida serão detalhadamente discutidos nos textos abaixo.
Basicamente, as tentativas de fazer um experimento independente, consistem em isolar os elementos do experimento e aplicar a eles fórmulas muito bem definidas e com variáveis que dependam apenas das características presentes no próprio experimento.
Esta tentativa, tanto na física moderna quanto na economia, demonstrou-se totalmente falha.


Only to the braves:
A influência da reflexividade:
Neste aspecto o princípio da incerteza novamente se faz presente. A forma utilizada para obter medições influencia diretamente no que será obtido, ou seja, o observador tem papel fundamental no estudo do “objeto” observado. Não existe hoje, na física quântica, uma forma de esperar, sentado e confortavelmente acomodado, que um experimento científico ocorra para, ao final, ir coletar os resultados.
Além disso, para pavor e arrepio na espinha de muitos cientistas tradicionais, há quem afirme que a consciência humana afeta de maneira conclusiva o experimento que está em execução. Muitos cientistas, como, por exemplo, Henry Stapp, PhD em física das partículas pela universidade da Califórnia, Berkeley, sob supervisão de Emilio Gino Segrè, premiado com o Nobel da física por sua descoberta dar sub-partículas denominadas antiprótons, afirmam que consciência e física quântica têm uma relação muito próxima e, em verdade, talvez a física quântica possa explicar como a consciência funciona e a consciência possa trazer à tona características ainda desconhecidas da física quântica.
O tema dos experimentos necessários já foi abordado “por tabela” nos Posts anteriores, e os detalhes mais técnicos podem ser facilmente encontrados nos Posts apresentados até o momento (principalmente com a ajuda dos links espalhados pelos textos), mas o importante é notar que nada acontece na natureza sem a interferência humana, e nada que a humanidade é capaz de fazer acontece sem interferência da natureza (natureza denotando o comportamento fundamental das coisas, e não o caráter “ecológico” da palavra).
Mas porque esta influência mútua é tão importante na economia?
É simples. Porque a idéia de que alguém (mesmo um economista) pode estudar a economia como se estivesse “de fora” da “experiência” é totalmente ilusória. A expectativa e, principalmente, as ações daqueles que estudam a economia, mudam substancialmente o rumo do que se está estudando.
A forma como o economista (ou qualquer um que se interesse pela área) aborda um contexto muda o resultado que ele obtém, e o resultado que ele obtém muda sua forma de pensar e de agir, e sua ação, por sua vez, muda as características do experimento. Isto é o que afirma George Soros, em sua teoria da reflexividade, mas é interessante notar o quanto isso se aplicaria perfeitamente às experiências da física quântica.


As leis imutáveis:
A física quântica, ao contrário da Newtoniana, não possui um conjunto básico de fórmulas elementares que, com base em dados iniciais, determinem, com exatidão, qual será o resultado final. Este tema também já foi, acredito eu, suficientemente abordado nos Posts anteriores. Mas para este momento, o que precisamos enfatizar é que, na física quântica, o que define os acontecimentos são as interações e toda a rede de entrelaçamentos que elas formam.
E por que esta tendência a adotar “leis” de comportamento influenciaria na economia?
Bom, porque esta “mania” de fragmentar os contextos e aplicar, a cada fragmento, leis imutáveis, eternas e gerais é, pois, claramente uma herança Newtoniana deixada como legado para todo o pensamento humano (sobretudo o ocidental).
Acho interessante aprofundarmos mais esta questão das “fórmulas” aplicadas à economia para entendermos o interessante rumo ao qual elas nos levaram (a todos nós).
No mercado de ações, pregava-se que, basicamente, os valores das ações sempre oscilariam, mas no final das contas o resultado final seria positivo em relação ao inicial.
Foram elaboradas complexas teorias e diversas análises foram coletadas para dar suporte a esta tese.
O valor das ações de uma empresa pode subir ou descer, seguindo ondulatoriamente sobre um eixo temporal, formando gráficos semelhantes ao apresentado abaixo (que é um gráfico do valor das ações da Petrobrás de outubro de 2007 até outubro deste ano).

Os maiores preços alcançados num estipulado período de tempo são chamados de “Topos” e os menores de “Fundos”. Estes valores influenciam o mercado pois são importantes referências de como o mercado reagiu a eles no passado. Explicando um pouco mais detalhadamente, quando as ações chegam a um valor muito alto tendem a não conseguir ultrapassá-lo, pois o “papel” se supervalorizou (tomando como base os valores passados), diz-se que atingiu um ponto de resistência, há mais pessoas vendendo (livrando-se) papéis do que pessoas comprando (querendo para si); de forma semelhante, ao baixar muito seu valor a ação chega a um ponto onde a empresa está sub-valorizada no mercado de ações (também de acordo com análises passadas), diz-se então que foi atingido um ponto de suporte, onde mais pessoas estão comprando papéis do que vendendo. Esta oscilação vai então se sucedendo ondulação após ondulação, formando diversos padrões estudados e catalogados para re-aplicação em situações futuras, predefinindo-se que os padrões uma vez observados irão sempre se repetir. Para citar alguns exemplos de padrões já catalogados (e exibidos abaixo) temos o “ombro-cabeça-ombro”, o “topo duplo”, os “triângulos” de alta e baixa etc.

Associados a estes padrões, temos a aplicação de fórmulas complexas, como a formadora da seqüência de Fibonacci, que pode ser aplicada para, supostamente, predizer a tendência dos valores de determinada ação para o futuro.
Este determinismo ilusório levou à crença de que as ações sempre seguiriam sua tendência e que, apesar das oscilações, o valor médio sempre subiria, o resultado a longo (ou até mesmo médio) prazo seria garantidamente positivo.
Oras! Sendo que o lucro é garantido e, supostamente, mais alto que as aplicações ditas seguras, porque alguém preferiria a boa e velha “conta-poupança”? E mais (e ainda pior), se os juros das dívidas são sempre menores que os juros dos rendimentos (ainda que apenas se considerarmos, no mínimo, o médio prazo), por que alguém deixaria de aproveitar a oportunidade de entrar nesse “negócio da China”? (Lembrando que este cenário ocorreu nos EUA, e não aqui no Brasil, felizmente).
Bom, mais uma vez reforçando, a idéia aqui não é provar que as teorias estão erradas ou que não são aplicáveis. A idéia é conscientizar de que as análises e cálculos são aproximações, e aproximações que dependem de variáveis que vão muito além de nossas percepções, seguindo todas as restrições já mencionadas até aqui.
Mas, para resumir, o que ocorreu é que a crença na alta garantida fez com que todos apostassem todas as fichas neste negócio. Quando a situação se inverteu e ninguém tinha mais fichas para jogar, o resultado foi o único possível: “GAME OVER”.

sábado, 10 de outubro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Parte II

Recomendação:
Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.
Desnewtoniando: Crise Financeira x Ciência Moderna: Introdução


Resumo do Post:
Neste Post será abordada a ilusão da constância, baseada na não-percepção da natureza dinâmica das coisas.
Podemos encontrar esta natureza tanto na teoria sub-atômica e, portanto, no mundo do invisível de tão pequeno, quanto na teoria do Big Bang e, portanto, no mundo do inalcançável de tão extenso, e neste caminho também passando pelas mais diversas áreas como o misticismo, os grandes impérios e, principalmente, pelo tema focado nessa seqüência de Posts, a crise mundial.
O comportamento de expansão/contração (bolha) ocorrido durante a crise já foi visto diversas vezes e, nada mais é, do que um aspecto intrínseco do comportamento das coisas na natureza. A história (e agora a ciência) vem provando que, toda vez que tentamos contrariar essa natureza “oscilatória” intrínseca, ela mesma se encarrega de implantar a semente da transição.
Para uma compreensão mais detalhada desta análise, leia a sessão seguinte.

Only to the braves:
Na física os cientistas estão descobrindo cada vez mais a natureza dinâmica das partículas sub-atômicas. Além do mundo sub-microscópico, este dinamismo parece dominar também o universo, demonstrando que a dinâmica é um princípio intrínseco de tudo o que compõe o nosso mundo.
O Big Bang:
Para entendermos o dinamismo, no que se refere ao universo, devemos lembrar que a ciência, através da teoria do Big Bang, concluiu que o universo originou-se a partir de uma grande quantidade de energia e matéria (que, a lembrar, são na verdade duas faces de uma mesma realidade) condensadas em um único ponto e que expandiram-se como que em uma explosão. Os cientistas estão, inclusive, tentando botar à prova esta teoria, como bem lembrou nosso leitor Rodrigo, com o uso do LHC (Large Hadron Collider).
O princípio básico do Big Bang é um pouco mais bem conhecido, mas o que nos importa agora é um fato não tão conhecido, o fato de que observações indicam que o universo está em expansão, e, algumas interpretações das equações de Einstein, sugerem que esta expansão acabará, e transformar-se-á em uma contração, que se dará até que o universo todo seja novamente um pequeno ponto condensado de matéria e energia formando um ciclo de “expansão-contração” (não sei o quanto isto ficou claro, mas está implícita nessa idéia a inevitabilidade da extinção de qualquer forma de vida, pelo menos da forma em que a conhecemos).
Apenas para citar rapidamente outras correntes filosóficas que reconhecem esta característica dinâmica e sempre transitória da natureza, temos as filosofias místicas orientais. O budismo, por exemplo, enfatiza o “vazio” fundamental que a tudo cria e que tem o “potencial” para formar todas as coisas. O hinduísmo, por sua vez, enfatiza a eterna dança das transformações promovida por Shiva que, de tempos em tempos, destrói o mundo como o conhecemos para que possa ser reconstruído. Mas isso com certeza será novamente abordado em outro Post, no futuro.
O núcleo atômico:
Voltando à ciência, quando analisamos esta natureza dinâmica sub-atomicamente, encontramos forças que unem fortemente os “núcleons”, e que têm, por característica uma forte atração para partículas que encontram-se distantes, porém uma forte repulsão para partículas que encontram-se próximas, criando um verdadeiro “estilingue” de sub-partículas. Este é o comportamento do mundo das partículas que faz com que haja entre elas as velocidades absurdas já citadas no Post anterior (a lembrar, 960km/s), criando duas situações extremas nas quais as partículas ficam oscilando, de forma incomensuravelmente (e inimaginavelmente) dinâmica, de aproximação e afastamento, “contração-expansão”.
Yin e Yang:
Esta natureza dinâmica e de opostos que se equilibram e oscilam eternamente em muitos pontos assemelha-se à natureza de outra filosofia  oriental, a do “Yin” e do “Yang”. Esta semelhança também será discutida em Posts futuros, mas pode ser vista através do fato de que o brasão de armas do renomado físico de Mecânica Quântica Niels Bohr tem o símbolo chinês do Tao yin-yang e acima deste a frase, em Latim: "Contraria sunt complementa" que significa que “os opostos são complementares”.

Apenas para dar uma breve idéia da principal relação existente entre estas duas realidades, a filosofia yin-yang baseia-se no equilíbrio, na geração de um evento através de seu oposto, na oscilação entre extremos, na mudança constante inerente à natureza.  Analisando-se as duas propostas mais detalhadamente (da física e do equilíbrio yin e yang) é possível chegar a paralelos surpreendentes.
Crise x Ciclos naturais:
Ao tentarmos contrariar esta tendência da natureza de re-estabelecer um equilíbrio, e acreditarmos que um crescimento poderia ser eterno e constante, acabamos por cometer mais um dos pecados do reducionismo.
Na história do mundo, diversas vezes pôde-se presenciar impérios que ascenderam devastadoramente (no sentido mais literal possível da palavra), mas todos acabaram por cumprir sua trajetória dinâmica de ascensão e queda.
Acredito que tanto impérios que crescem além de sua própria sustentabilidade quanto empresas, governos, países, corporações ou qualquer outro tipo de entidade tendem a chegar (como expresso pela filosofia yin-yang) à semente de sua própria auto-aniquilação. Parece-me que o que ocorreu na crise foi algo muito semelhante a isso, mercados (como o imobiliário) que se expandiram de forma totalmente não-auto-sustentável através de uma “auto-alimentação” que acabou culminando em uma “auto-destruição”, efeito muito bem representado pelo termo com qual foi nomeado, uma bolha.
Voltando ao misticismo, note que o símbolo de Yin e Yang mostra opostos que se revezam, quem está em ascensão e quem está em queda, e cada um dos opostos trás dentro de si (simbolizado por um pequeno ponto da cor oposta) a semente do “nascimento” de seu oposto.
Penso que, para conseguirmos alcançar transições menos traumáticas (do que, por exemplo, na crise) precisamos começar a detectar quando uma atitude está agressiva demais (comercialmente, monetariamente, psicologicamente, estrategicamente ou em qualquer outro aspecto) para que nós mesmos possamos tomar providências para equilibrar o sistema de forma saudável, antes que a própria natureza se encarregue de “plantar a semente” da “aniquilação e recomeço”. Acredito que esta filosofia deveria ser aplicada muito urgentemente na questão da preservação da natureza, e também em nossa crença fortemente enraizada de que um país só é próspero se aumentar seu PIB todos anos infalivelmente, desconsiderando outros aspectos que deveriam ser muito mais importantes, mas isso também será tema para um próximo debate.

domingo, 4 de outubro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Parte I

Recomendação:
Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.


Resumo do Post:
Neste Post serão abordados “o conhecimento perfeito” e “o estudo de eventos isolados”.
O conhecimento perfeito é impossível, em primeiro lugar, porque o próprio ser humano é imperfeito, logo está sujeito a falhas de interpretação e a lacunas na formação do conhecimento. Mas, além disso, existe sempre a incerteza inerente ao próprio contexto que se está estudando. Para alguns contextos isto é inevitável, como podemos ver, por exemplo, no princípio da incerteza da física quântica (além do próprio caso da economia mundial, é claro).
O próprio princípio da incerteza, e as formas de experimentos que demanda, fazem com que a “o estudo de eventos isolados” não seja possível.
Estas duas falhas do reducionismo serão exploradas de forma mais aprofundada no texto a seguir.


Only to the braves:
O conhecimento perfeito:
A física quântica constantemente lida com situações onde o conhecimento está longe de ser perfeito. Alguns casos de “imperfeição” do conhecimento humano de fato devem-se à falta de conhecimento dos cientistas com relação a pontos ainda obscuros do comportamento da matéria, como no caso da teoria da relatividade geral de Einstein que ainda não foi totalmente comprovada e, em alguns círculos científicos, não é nem mesmo totalmente aceita. Porém, em alguns casos essa “imperfeição” é dada como uma característica intrínseca do comportamento sub-atômico, onde os cientistas não lidam com a clássica noção de “presença de uma partícula sólida em um dado ponto no espaço durante um dado período no tempo”, e sim com “tendências a existir” ou ainda “tendências a ocorrer”, lidam com probabilidades de posição, ondas de probabilidade.
De acordo com o princípio da incerteza, para saber-se a posição de uma certa partícula, é preciso conviver com a imprecisão de sua velocidade, e para saber-se sua velocidade é preciso conviver com a imprecisão de sua posição.
E como podemos trazer esta percepção para o mundo das finanças?
George Soros publicou também um livro chamado “A Alquimia das Finanças”, acredito que alquimia é uma palavra realmente bastante interessante para definir este mundo.
O que aconteceu quando deixamos de levar em consideração toda a complexidade deste mundo e deixamos que o Reducionismo afete nossa forma de estudar a Economia é que passamos a acreditar que realmente podíamos vê-la em termos de “objetos pré-definidos impulsionados por forças pré-definidas cuja resultante dependia de leis pré-definidas”, quando na verdade isso é uma grande ilusão. Ainda não entendemos certos aspectos da economia para julgar que podemos controlá-la, e, mais do que isso, existe uma natureza intrínseca a ela que a faz incerta (principalmente levando-se em consideração que muitos pontos envolvem a interação humana, que é muito menos previsível do que pregam muitos economistas). Não se pode, de forma alguma, dizer que conhecendo-se a posição atual da economia, os gráficos de tendência do mercado e o tempo de um determinado investimento (por exemplo), podemos prever qual será o resultado final.


O estudo de eventos isolados:
O princípio da incerteza, citado anteriormente, faz com que os resultados obtidos dependam totalmente dos processos adotados na experiência. Não porque os cientistas conduzam a experiência no rumo que estão querendo, mas porque na física quântica o conceito de “fato isolado” se perde, tudo é fruto de interações intensas entre todos os elementos envolvidos no experimento (incluindo o observador). Na física sub-atômica, partículas se criam, partículas se aniquilam, partículas se absorvem, vêm e vão a velocidades inimagináveis da ordem de 960km por segundo. Muitos estudos só são possíveis através de aparatos como o acelerador de partículas, aparato este muito comentado há pouco tempo atrás, quando foi divulgado que um projeto do CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), o LHC (Large Hadron Collider), poderia “por acidente” aniquilar com a presença da Terra nesse nosso universo. A extensão do alarde que se fez gerou a impressão de que este era o primeiro experimento dessa natureza (um acelerador de partículas), mas há vários outros construídos e em funcionamento, que ajudam os cientistas a desvendar mais e mais os mistérios do universo das sub-partículas, o caso é que este projeto tem particularidades que realmente o tornam especial, mas isso não vem ao caso para o assunto em pauta.
Voltando ao contexto original, o ponto que nos interessa é que na física moderna nada é analisado por si só, nada é isolado, nada tem existência independente. Ao passo que, na física clássica, temos pontos bem definidos dispersos no vazio desprezível (em termos de influência no experimento), na física quântica temos a realidade de que o “vazio” na verdade é apenas uma sub-parte da matéria, ou a matéria é uma sub-parte do “vazio”, a diferença entre “vazio” e matéria é uma questão de energia acumulada (e extremamente dinâmica), representada pela famosa fórmula E=mc2, mas este também é um assunto muito extenso (tanto quanto interessante), e por isso merecerá algum Post particular em algum futuro breve.
Por enquanto, em termos da economia mundial, o que devemos perceber é que pôde-se ver claramente nesta crise que os mercados, nem de longe, são “objetos” analisáveis independentemente, todos eles, de uma forma ou de outra, diretamente ou indiretamente, possuem algum tipo de ligação. Pudemos ver uma crise imobiliária que alavancou sérios problemas entre investidores e bancos, mas logo todo o mercado estava em crise, e não só as grandes empresas, mas também cada uma das pessoas envolvidas no contexto.
Mas, para mim, uma das características mais fortes desta crise foi que, assim como nos experimentos sub-atômicos, não podemos falar em eventos perfeitamente “encaixáveis” dentro de um modelo espaço x tempo bem definido, encadeados em uma seqüência de fatos um após o outro, mas sim, em eventos entrelaçados, ocorrendo tão “interligadamente” que não podemos dizer com precisão onde acaba um evento e onde começa outro, desenvolvendo uma cadência mais parecida, por exemplo, com os diagramas de Feynman da teoria das sub-partículas.
Esta cadência envolve, inclusive, os ditos “observadores”, o que inclui aos economistas mas também a todos nós, que procuramos basear nossas ações em nossas próprias percepções da crise, mas a verdade é que nossa percepção da realidade altera nossas ações, que por sua vez altera a realidade, entrando em um círculo que traz ainda mais complexidade ao circuito, mas este assunto será mais profundamente discutido na Parte III desta seqüência de Posts.

sábado, 3 de outubro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Introdução

Guia dos Posts


Os 4 Posts que compõem este tema, e que virão a seguir, exigem a leitura prévia do Post “A Crise Mundial”:

Este assunto foi dividido em vários Posts pois, quando pensei na linha de raciocínio que usaria para aplicar o anti-reducionismo, os conceitos básicos da física quântica e um assunto presente na vida cotidiana (a economia e, mais especificamente, a crise financeira), logo tive a impressão que o assunto renderia um texto bastante grande. A questão é que, conforme fui agregando assuntos para a pauta, a quantidade de temas e pontos de vista fugiu um pouco do controle e acredito que englobar tudo em um único Post não será uma boa estratégia.
Sendo assim, inicialmente os Posts se dividirão em:
- Crise Financeira x Ciência Moderna I: A ilusão do controle
- Crise Financeira x Ciência Moderna II: A ilusão da constância
- Crise Financeira x Ciência Moderna III: A ilusão da independência
- Conclusões sobre a Crise: Como podemos encará-la, então?
Tudo isto, na ciência moderna, mostrou-se uma indiscutível ilusão.

Estes Posts irão questionar nossa crença nas práticas reducionistas.
As crenças foram dividas em 3 grandes grupos:
A ilusão do controle:
Que nos leva a crer que podemos ter pleno conhecimento sobre todos os fatores envolvidos em um determinado contexto e que, isolando-os, podemos analisá-los em termos de estruturas básicas simples que compõe um todo através de regras claras. E que, aplicando-se estes métodos, é possível controlar totalmente qualquer situação.
A ilusão da constância:

Que cria a falsa impressão de que, encontrada uma lei, pode-se tomá-la por algo imutável, eterno, faz com que acreditemos (talvez por condicionamento, talvez por instinto ou talvez por pura conveniência) que um modelo que funcionou em um determinado momento pode ser aplicado para sempre, em todas as situações e por tempo indeterminado.
A ilusão da independência:

Que nos levou a esquecer que nós não só estudamos e usufruímos os recursos que o mundo pode nos dar, mas também fazemos parte dele, não há como falarmos de mundo sem falarmos de nós mesmo e nem falarmos de nós mesmo sem falarmos do mundo.
Terminando com uma conclusão que tentará fazer um apanhado geral e levar a uma reflexão mais aprofundada sobre como encarar os problemas sem cair no reducionismo que tanto costuma nos influenciar.

Analisando um pouco o contexto da história da física e da história de outras ciências (assim como coisas de nosso cotidiano) acredito que todas as ciências sofreram, em pelo menos algum nível, uma influência considerável.

Espero que os Posts a seguir tragam novos conhecimentos, a todos os leitores, acerca da economia (principalmente das causas da crise que vivenciamos) e da física, porém, minha maior satisfação será conseguir fazer com que haja uma mudança na forma de ver o mundo, trazer um pouco às discussões do dia-a-dia uma abordagem mais holística, sistêmica ou orgânica.
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