sábado, 6 de fevereiro de 2010

Astronauta x Neurocirurgião

Aproveitando as discussões relativas ao que é real e o que é criação da mente, o que é "captável" e o que é "insondável", segue um diálogo fictício que pode nos fazer pensar um pouco:



Certo dia estavam conversando um astronauta ateu convicto e um neurocirurgião questionador.

O astronauta, do alto de seu ateísmo, zombou afirmando que já estivera no espaço inúmeras vezes, porém nunca avistou nenhuma divindade nos espiando lá de cima.

Ao que o neurocirurgião, sempre questionador, respondeu:
"Eu também já operei inúmeros cérebros de pessoas altamente inteligentes. E ainda assim, nunca vi um pensamento sequer."





(Diálogo baseado em trecho do livro "O Dia do Coringa", de Jostein Gaarder, mesmo autor de "O Mundo de Sofia")







11 comentários:

Unknown disse...

oxê...rs...isso foi um comentário ou um post? rs...

recorde de menor número de linhas...rs...num vou nem me estender pra não ultrapassar...rs...

Brincadeira!

Falow! Abraço!

Rodrigo Letang

Fábio Hideki Kawauchi disse...

hahahaha... foi um Post! Mas é uma experiência. Para ver qual a aceitação de Posts menores e mais filosóficos, onde cada um pode tirar suas conclusões, sem que o Blog passe uma impressão mais precisa.

Pode comentar à vontade, a idéia é essa! Deixar as pessoas mais livres para expor suas idéias e discutir pelos Comments, não utilizando simplesmente o texto do Blog...

:)

Unknown disse...

Numa primeira leitura (rápida), pode-se entender que o neurocirurgião questiona o que o astronauta inferiu. Admitindo que pensamento exista mesmo sem podermos vê-lo, e aplicando o raciocício às divindades, não as ver não comprova que não existam.

Relendo, percebi que há a interpretação de que o médico aparentemente concorda com a argumentação do astronauta: tal qual os pensamentos, divindades não possuem forma, sendo apenas denominações, não existem.

Achei meio tendenciosa a forma a qual foi escrita a passagem. Explico.

Na minha leitura, são comparados divindade e pensamento, o que é bem interessante do ponto de vista de um leitor ateu. A importância de divindades segue na forma em que elas influem no pensamento e comportamento humano. A existência ou não delas perde sentido se encaradas apenas como idéias.

As figuras de astronauta (calcado em ciências exatas e entendimento) e neurocirurgião (o operador de nervos, do que diferencia o homem do restante dos animais) são mais ligadas a pessoas não religiosas. Expõe-se, no entanto, apenas o astronauta como ateu.

Achei desnecessário o uso do verbo zombar, pois indica que o ateu "do alto do seu ateísmo" desdenha a existência de divindades e possivelmente aqueles que nelas acreditam.

Não acreditar na existência de "seres maiores" não seria uma resposta à um questionamento? A observação do astronauta é mesmo uma chacota?

Fábio Hideki Kawauchi disse...

Bom, não imaginei que as discussões fossem se aprofundar tanto nos termos, por isso não coloquei o texto exatamente da forma como estava escrito no livro. Mas como os termos acabaram aparecendo, fui procurar o texto original para me recordar o que exatamente tinha sido dito.

O verbo "zombar" no original na verdade era "gabar-se", o astronauta "gabou-se" de ter ido ao espaço várias vezes e nunca ter visto nenhum ser divino. Ao meu ver o sentido neste ponto foi o mesmo.

O que eu mudei propositalmente foi associar o termo "questionador" ao neurocirurgião; no original ele era efetivamente um "cristão". Porém, achei que um neurocirurgião cristão tiraria um pouco da beleza desta "contra-argumentação". Explico (rs).
Demonstrar que não se pode comprovar a existência de Deus (ou qualquer divindade ou força superior) não prova que ele não existe.
Porém, demonstrar que não se pode comprovar a não existência do mesmo também não prova que ele existe.

Acho que a grande questão é justamente esta. O Neurocirurgião, neste caso, não estaria usando a argumentação para defender a existência de Deus, mas apenas para dar um "choque de percepção" no astronauta quanto à falta de profundidade de sua análise.

A questão, assim sendo, não é acreditar ou não acreditar. Até muito pelo contrário, é duvidar de ambas as posições. E acho que este diálogo me chamou muito a atenção justamente porque representa bastante bem o que penso a respeito da realidade (incluindo aí a religião). Não acredito em nada mas também não "desacredito" de nada, apenas me questiono do quão perto da verdade conseguiremos chegar um dia.

Se acreditou-se durante tantos séculos na indivisibilidade do átomo e depois descobriu-se que lá dentro há um "universo inteiro" há ser desvendado, como poder afirmar "eu nunca vi e portanto não existe"?

(Bom, afinal, ocorreu um "Post" dentro de um "Comment", rs... mas acho que foi um formato interessante também).

Unknown disse...

Concordo que a existência ou não de divindades está longe de ser o que mais chama a atenção na passagem.

Para mim, é uma questão de tomar partidos e escolher caminhos. A decisão de cada pessoa pode estar cheia de erros, mas é o que a faz caminhar para alguma direção.

Duvidar das inúmeras possibilidades de resposta é importante, mas escolher a resposta que melhor represente o que se pensa também não é?

Desagrada-me muito no texto o fato do astronauta "zombar" quem fez a sua própria escolha (ou o objeto de escolha), e a aparente amistosidade maior com o neurocirurgião questionador do que com o astronauta convicto (que encontrou sua resposta). Ou seja, mostra-se predileção muito maior pelo questionamento e não pela escolha.

Como sair do meio de uma neblina?
-Seguimos a luz de um faroleiro distante?
-Acendemos uma lanterna e tentamos enxergar além da neblina em busca da saída?
-Escolhemos uma direção qualquer e seguimos em linha reta?

Não há solução isenta de incertezas; não há caminhos certos e garantidos; não há visão sem ilusão.

Na minha opinião, questionamento são válidos se caminhamos em algum rumo, mesmo que sejam questionamentos aparentemente sem respostas. Ao passo que seguir alguma direção sem questionamentos não considero o mais plausível.

Unknown disse...

Jostein Gaarder é um belo escritor, suas obras são magníficas. Não conhecia esse diálogo fantástico. Obrigada por publicá-lo. Exemplifica como a sublime existência de um ser infinito e inimaginável nos torna seres questionadores e isso é ótimo. Já se dizia: o importante não é a resposta, mas a pergunta.
^^
Adorei o post.
Abs!

Fábio Hideki Kawauchi disse...

Paulinha:
Obrigado pelo Comment. Esta passagem do livro me marcou bastante, que bom que agradou a você também :)
Acho que questionar é de extrema importância, é o que nos faz dar o passo à frente, inovar, renovar...
A questão do "ser" que nos torna questionadores é bastante interessante. Diz o mesmo livro que talvez ele esteja lá em cima rindo de nós por ficarmos discutindo se acreditamos ou não nele, como se isso fizesse alguma diferença no "contexto mais amplo". Eu mesmo não acredito muito em Deus, pelo menos não no descrito pelas religiões, mas caso ele exista e seja realmente onipotente, onipresente e onisciente, a culpa de minha descrença é dele mesmo, por ter me dado pouca fé, rs (e isso também é um trecho do mesmo livro).

Minoru:
Concordo plenamente que fazer escolhas é fundamental, como é frisado diversas vezes em "Matrix", tudo parte de uma escolha.
Mas escolher não necessariamente significa parar de questionar, como você mesmo disse: "seguir alguma direção sem questionamentos não é o mais plausível". Um timoneiro sempre escolhe seus caminhos, mas precisa acertar o barco o tempo todo, observando a bússola. Além disso, caso as características encontradas nos lugares não bata com as do mapa (rochas, ilhas, corais e etc), ele pode ter que reavaliar a sua escolha inicial.

E quanto à predileção, não diria que há uma predileção. Acho que ambos os extremos são prejudiciais, pensar e não agir e agir e não pensar. Porém, a sociedade ocidental moderna em geral enfatiza exageradamente o agir, negligenciando o pensar, por isso o Blog busca alternativas para introduzir o questionamento no dia-a-dia dos leitores. Talvez se ele fosse escrito no Tibet a história tivesse uma moral final diferente.

E, no final das contas, acho que pessoas com maior poder de ação e pessoas com maior poder de questionamento devem trabalhar juntas, e não considerarem-se pessoas de mundos diferentes, pois, como diz o livro "A Arte da Guerra", todos os tipos de pessoas têm suas qualidades e devem ser aproveitadas para atingir-se um objetivo. O livro diz:
"O hábil utilizador de homens utilizará o sábio, o valente, o ambicioso e o estúpido. Porque o sábio adora estabelecer o seu mérito, o valente gosta de mostrar a sua coragem em ação, o ambicioso é rápido em aproveitar-se das oportunidades e o estúpido não tem medo da morte"
Achei bem ruim esse livro, a passagem soa para mim mais cômica do que sábia, mas serve para ilustrar que apenas a junção de estilos de personalidade diferentes faz de uma equipe um time "único".

;)

Unknown disse...

Não discordo de nenhuma das análises e entendo bem qual o objetivo da passagem.

Nunca disse que escolher é parar de questionar. Afinal me interesso muito por refinamento de processos. E muito menos que são mundos diferentes.

O texto permite várias interpretações. Essa foi apenas a minha interpretação unida a minha opinião.

Clá disse...

Acredito que esse diálogo reflete justamente a questão da realidade que discutimos no post anterior.

Algo só se torna real se acreditarmos na existência desse algo. Portanto, parece que a nossa existência gira em torno de nossas próprias crenças.

O astronauta não vê a possibilidade da existência de um ser divino, apresentando uma visão unilateral, excluindo a outra "realidade".

Já o neurocirurgião, mais fléxível, tem sua visão amplificada, aberto às diversas possibilidades.

Assim, o "questionador" nessa situação tende a apresentar experiências mais amplas e integradoras do que aquele que só se permite enxergar aquilo que vê.

Fábio Hideki Kawauchi disse...

As abordagens de Fritjof Capra (e outros cientistas) é que a realidade integral é totalmente inalcançável, uma vez que quanto mais entrelaçamentos se descobre, tantos outros mais surgem.

Por isso acho que, no final das contas, o que vale é estar com a mente aberta para sempre agregar mais e mais aspectos da realidade.

No entanto, por mais que saibamos cada vez mais sobre a natureza das coisas, para quem realmente se dá conta do quanto sabe sobre o mundo e as coisas acho que sempre valerá a célebre frase: "Daria tudo que sei por metade do que não sei..."

Anônimo disse...

Encontre suas verdades dentro de você, e com elas seja feliz...

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