quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz 2010!!!

É... o ano praticamente acabou e já faz um tempo desde o último Post, então, para encerrar o ano com chave de ouro, vamos ao último Post de 2009!




Resumo do Post:

Acho que a finalização deste ano foi uma prova viva de que as coisas dificilmente podem ser entendidas isoladamente, e de que cada coisa deve ser vista como uma complexa rede de interações entre outras coisas.

Frase um tanto quanto confusa, não? Mas fica bem clara analisando-se o triste fim da COP 15 (Conferência de Copenhague).
Será que o lamentável fim se deu por conta das autoridades que são incompetentes? Será que a culpa é da cobiça dos mais ricos? Da arrogância dos poderosos? Ou será que ela falhou simplesmente porque é composta de seres humanos, como eu e como você...

Only to the braves:
O ano acaba e são muitas as pessoas que têm toda a certeza do mundo de que precisam levar uma vida mais saudável, abandonar uma velha vida e iniciar uma totalmente nova (e mais “sustentável”).
Porém, o que se vê é que, apesar do consenso, pouca gente se dispõe a “sacudir o esqueleto” e se regrar para manter atividades físicas regulares... tampouco querem abdicar daquela saborosa pizza de sábado a noite ou daquela cervejinha gelada de sexta-feira com amigos – e confesso que neste segundo grupo eu me incluo ;). E, acima de tudo, todos enchem a boca para falar das atitudes que as autoridades tomam ou deixam de tomar, mas quem é que se dá ao trabalho de, por exemplo, reciclar o seu próprio lixo???
Mas então, como esperar novos resultados mantendo-se os velhos hábitos???

Acredito que o que aconteceu em Copenhague foi algo semelhante. Todos concordam que é preciso dar ao planeta uma vida mais saudável e sustentável, mas quem é que quer suar a camisa para trazer ao mundo soluções mais ecológicas para os problemas atuais? Quem é que quer abdicar de devorar os (já escassos) recursos da natureza para aumentar sua própria riqueza? Quem é que quer gastar seu próprio dinheirinho com um problema que é global???
Que o façam os países ricos, que têm muito mais culpa no cartório e condições no bolso!
Que o façam os chineses, que para crescer rapidamente estão desrespeitando o planeta!
Que o façam os vizinhos! Qualquer um que não seja eu!

É muito fácil empurrar a culpa para as autoridades, mas me parece que precisamos analisar a conferência não como uma cúpula de malfeitores, mas sim como uma complexa interação de pessoas tão humanas quanto qualquer um de nós e que, da mesma forma, têm seus defeitos e limitações.

Mas aproveitando o ensejo, quando será que nós, humanos, chegamos à conclusão de que o mundo está aí para ser explorado?



Uma hipótese que me parece interessante é a de que, o que mudou, foi a forma como a humanidade encara o mundo onde vive.
Nos primórdios (mas bem nos primórdios mesmo) estávamos totalmente à mercê da natureza. Do frio, da chuva, dos ventos, do calor, da seca e etc. Mas, com o tempo, dominamos o fogo, aprendemos a manusear ferramentas, a construir, a armazenar, planejar mas, ainda assim, a natureza continuou sendo um grande mistério. Para alguns, fruto da ira ou satisfação de grandes Deuses (como Zeus, Hera, Atena ou Apolo); para outros, cada elemento era um Deus diferente (como o Sol, a Lua ou as águas). Depois disso, acabamos percebendo que as coisas não eram bem assim, mas, mesmo nesse momento, o planeta Terra permanecia sendo o santuário das criaturas mais “importantes” do universo (nós, é claro...), criaturas habitantes do grande centro “antrópico”.



Mas aí veio toda a revolução científica e a descoberta da “natureza mecânica” da Terra. O mundo já não era mais composto de Deuses, nem era o centro de tudo, apenas um pequeno fragmento levitando em um gigantesco universo regido pelas rígidas leis da física clássica.
A “Mãe Natureza” já não parecia tão maternal assim, o mundo assumiu uma característica muito mais semelhante a um mecanismo a ser decifrado, controlado e explorado em nome de nosso bem-estar.
A partir daí, nos vimos no direito de ver o mundo como um conjunto de engrenagens a ajustar de forma a otimizar seu uso, nos vimos no direito de usar, modificar e até mesmo exterminar cada “peça” dessa gigante “máquina”.

Bom... mas que venha 2010, e que este seja um ano de muitas reflexões, reavaliações mas, principalmente, ações e realizações! Feliz 2010 para todos os leitores!!! :)


domingo, 20 de dezembro de 2009

Essa Megalópole... pulsante...


Para descontrair (mas prestem atenção!!!) assistam o vídeo abaixo:



Marco Luque, um gênio cuja sagacidade se mantém, em grande parte, incompreendida por nós, reles mortais, faz uma brilhante analogia entre uma megalópole e um organismo vivo, onde “... as avenidas são as artérias, as ruas são as veias, com os glóbulos vermelhos indo e vindo”.

Mas se, no cinema e na TV, a vida imita a arte, em Gaia “a vida imita a vida”.
Uma célula é um organismo vivo, capaz de se auto-regular e de criar sua própria estrutura, assim como mantê-la, agindo ao mesmo tempo como um ser único e também como parte integrante de um “todo” maior. E assim também é um tecido, ou um órgão, um sistema, um organismo (com suas artérias e veias), um grupo, ou até mesmo uma sociedade (com suas avenidas e ruas), todos têm sua autonomia, mas ao mesmo tempo são sempre parte de algo maior, completando um entrelaçamento de interações através de complexas redes.

Agora, por enquanto, abstraiam um pouco o vídeo e prossigam no Post:

Aproveitando a polêmica sobre Gaia representar, literalmente, que a Terra é um organismo vivo (ou não), colocarei um pouco mais de lenha na fogueira.
Bom, porque a Terra não pode ser considerada um organismo vivo?

Conforme vimos no Post anterior, há muitas analogias possíveis a serem feitas entre a Terra e um ser vivo qualquer.
A Terra tem seus elementos que a mantém saudável, assim como temos nossos anticorpos. Ela tem seus sentidos que garantem a “re-alimentação”, assim como temos tato, olfato, paladar, visão e audição. Dá sinais de fraqueza e desequilíbrio, assim como temos febre e dores. E, como todo e qualquer ser vivo, pode adoecer, pode não conseguir ser mais forte do que os males que a afligem. Então porque ela não pode ser considerada um organismo vivo???

Porque ela é composta de mais matéria “morta” do que viva?
Mas quanto de nosso corpo não é matéria morta? Cabelos, pêlos, unhas, pele já morta etc. E o que se pode dizer de uma árvore, por exemplo? Quantos % de sua composição não tem vida? Ao que me consta, 97% da madeira constituinte de uma árvore é madeira “morta”. E o que dizer de uma água viva? Até 98% só de água!

Também se pode alegar que, ao contrário do caso de organismos vivos, a pouca vida que há na Terra são vidas independentes, não têm suas funções voltadas para o bom funcionamento da Terra.
Mas, será que não mesmo? Organismos vivos e não vivos trabalhando em conjunto para regular os gases da atmosfera terrestre, regular sua temperatura; plantas captando energia da luz e transformando em energia consumível pelos outros componentes deste organismo maior; tantos elementos trabalhando em conjunto, o que um consome o outro produz e vice-versa; e, além do mais, tudo isso forma um ciclo perfeito... por que isso não poderia ser considerado vida?
Além do que, nossas células também têm sua autonomia não têm? Pelo menos até certo nível. E existe também o caso das esponjas do mar que, a nós, parecem um ser único, mas suas partes têm alto grau de independência.

Uma coisa é inegável: o ser humano parece ter a clara capacidade de contrariar a todas as tendências e padrões, parece desafiar até mesmo a lógica. Mesmo dependendo da Terra, muitas vezes prefere não se dar conta disso e continuar com sua destruição, sendo assim, talvez realmente sejamos corpos estranhos nesse organismo chamado Gaia.

E, sendo assim, cabe agora rememorarmos o grande filósofo urbano (mesmo título dado a Glauco “Pesgalo”, que tantos Comments tem deixado no Blog) Marco Luque:

Afinal, o que somos nós??? Bactérias? Vírus? Ou Lactobacilos vivos???

É hora de decidir!!! ;D

domingo, 13 de dezembro de 2009

Copenhague – Reducionismo x Gaia

Resumo do Post:
O aquecimento global está em pauta. Na conferência de Copenhague se reúnem as maiores autoridades planetárias para definir o quanto precisamos nos mexer (ou não).
Neste ensejo, muitas polêmicas estão, mais do que nunca (como diria Fausto Silva), sendo levantadas.
A maioria de nós ainda pensa de forma muito reducionista, encarando atos e conseqüências sem muito cuidado e deixando de lado aspectos sutis mas de fundamental importância para entendermos a natureza do planeta em que vivemos.
Contrapondo o entendimento reducionista do mundo, temos a hipótese de Gaia. Muitas teorias levianas são montadas em torno do conceito de Gaia, o que faz com que muitos o tomem como um mito sem fundamento, mas a verdade é que esta teoria tem muito a nos ensinar.
Inicialmente conheci a hipótese de Gaia como sendo a hipótese de que a Terra seria um organismo vivo, e sempre interpretei esta afirmação “ao pé da letra”. Sendo assim, achava que era uma teoria um pouco furada (como acredito que muitos devam achar), tinha a convicção de que a Terra não tem uma consciência (no sentido mais convencional da palavra), não tem sangue correndo nas veias, não tem nenhum dos requisitos mínimos para ser considerada um organismo vivo. Mas este novo conceito de Gaia, baseado em fatos científicos, realmente me chamou muito a atenção.
A proposta deste Post é apresentar esta teoria controversa e propor a seguinte indagação: temos uma compreensão suficientemente profunda do planeta para nos julgarmos aptos a reunir um conjunto de pessoas e decidir o futuro do planeta?
Aos que toparem a discussão, sigam em frente no Post...



Only to the braves:
Cavaleiros do Apocalipse sentenciam que os seres humanos estão fadados a serem extintos em breve, pois o caminho que foi tomado já não tem mais volta.
Cucas “frias” dizem que este papo de aquecimento global é “intriga da oposição”, e que não há aquecimento nenhum na Terra. E tem até quem diga que, não só a Terra não está esquentando, como na verdade está se resfriando.
Professores pardais surgem com idéias mirabolantes e dizem que, simplesmente bombeando certos elementos no céu e nas nuvens, seria possível criar uma “proteção” que resfrie a Terra.

Bom, polêmicas à parte, será que a temperatura da Terra é realmente a única coisa que importa? Será que, mesmo que a Terra não esteja mesmo se aquecendo, ou de repente esteja se aquecendo em um ritmo totalmente aceitável (e não estou dizendo que está), não precisamos nos preocupar com a preservação do meio ambiente?
Alguém teria a coragem de negar que nossas águas, a cada dia que passa, estão mais e mais poluídas? Que as grandes quantidades de fumaça jogadas no ar são prejudiciais à saúde das pessoas (e dos outros animais)? Ou afirmar que não há problema em continuarmos com nosso ritmo de desmatamento??? Penso que não!

Mais uma vez nossa visão reducionista, e altamente voltada a números frios e isolados, nos faz perder o senso da realidade. Nos faz acreditar naquilo que é mais conveniente acreditar ao invés de nos fazer entender melhor a complexa realidade da vida.

Analisem com calma o seguinte ciclo:

- Vulcões jogam enormes quantidades de dióxido de carbono (CO2) no ar;
- O CO2 é reciclado em forma de oxigênio pelas plantas, mas a respiração dos animais equilibra esta troca (e esse ciclo, em si, já forma também uma grande rede de interconexões complexa e delicada). Sendo assim, o Dióxido de Carbono precisa ser eliminado da atmosfera;
- Para ajudar no processo de reciclagem de CO2, a natureza conta com a erosão das rochas. Estas combinam-se com a água da chuva e com o dióxido de carbono, e formam substâncias químicas denominadas carbonatos;
- Assim sendo, o CO2 é retirado do ar e retido em soluções líquidas;
- Essa solução é arrastada para os oceanos;
- Algas invisíveis a olho nú transformam a solução em conchas calcárias de carbonato de cálcio;
- Quando as algas morrem, essas conchas afundam no oceano e formam compactos sedimentos de pedra calcária;
- Devido a seu peso, com o tempo, as pedras se afundam no solo oceânico e voltam ao local de origem;
- Parte do CO2 será eventualmente jogado, pelos mesmos vulcões, de volta ao mesmo ar!



Este é um dos ciclos do Dióxido de Carbono, e, por si só, já seria bastante interessante. Mas há ainda um adicional a este processo. Este adicional faz parte da hipótese de Gaia, elaborada inicialmente por James Lovelock, onde uma das importantes características da hipótese é a de que a Terra possui seu próprio mecanismo de “auto-regulação” do Dióxido de Carbono (e conseqüentemente da temperatura da Terra).
- Certas bactérias aceleram a erosão do solo;
- A altas temperaturas, as bactérias se tornam mais ativas causando maior erosão do solo;
- Com a maior erosão, há mais combinação com  CO2, que volta em maior quantidade para os oceanos;
- Desta forma a temperatura da Terra se mantém praticamente constante através do importante conceito da “auto-regulação”.

Resumindo: mais calor, mais resfriamento; menos calor, menos resfriamento. Em um processo complexo, autônomo e consistente de “auto-regulação”. Este processo com certeza causaria inveja a muitos cientistas, engenheiros e profissionais de TI, pois envolve a monitoração de informações complexas, regulação através de infindáveis parâmetros e certificação de eficiência através de processos de realimentação contínua. É certamente uma obra de engenharia das mais geniais e sofisticadas que poderia existir, o “estado da arte” em termos de sistemas de monitoração e controle. O trecho exemplificado é obviamente apenas uma ínfima porção da rede toda e, mesmo este trecho, está bastante simplificado,  mas creio que é possível extrapolar o conceito e ter uma idéia da dimensão do conceito que está sendo discutido.

E é importante notar que não estamos falando de partes isoláveis que podem ser encaradas na forma de leis básicas e da interação de blocos separados através de parâmetros bem definidos. Estamos falando de uma enorme teia de interações onde qualquer instabilidade em qualquer nó da teia pode trazer alterações para todo o sistema.
Essa complexidade poderia nos levar a outra questão: será que o fato de os animais gerarem tanto CO2 e consumirem oxigênio e as plantas fazerem justamente o contrário é mera coincidência? Será que a simbiose entre animais é mero instinto? Será que todos esses ciclos são mesmo mero acaso ou há uma explicação por trás (seja ela “física” ou “metafísica”)? Esta discussão ficará para outro (ou, mais provavelmente, outros) Post. Mas quem quiser discutir nos comments pode sentir-se à vontade.

A questão central deste Post é: será que realmente podemos continuar ditando o rumo do planeta monitorando uma única variável e, pior do que isso, considerando-se apenas a taxa de crescimento graus Celsius / ano?

E o engraçado é que, se por um lado nós simplificamos demais certas questões para, convenientemente, enxergar apenas o que nos interessa, por outro lado transformamos questões simples em teorias mirabolantes com o mesmo objetivo. Por exemplo, discute-se a hipótese de a floresta amazônica começar a reduzir como efeito do aquecimento global causado pelas agressões à natureza realizadas pelo homem. Porém, neste exato momento (tanto neste em que escrevo quanto no momento em que você estiver lendo este Post) provavelmente há alguém derrubando mais uma árvore da Amazônia de forma ilegal e descontrolada. Por que será que insistimos tanto em complicar fatos simples e simplificar temas complexos???

sábado, 28 de novembro de 2009

A Matrix Quântica I

Observação:
Este texto faz parte de uma coletânea (muito) maior que, aos poucos, será elaborada e publicada. Cada texto pode ser entendido separadamente, mas o ideal seria entendê-los dentro do contexto completo. Para facilitar a busca de todos os textos envolvidos, selecione, do lado direito da página, o seguinte tema: “Desnewtoniando: A Matrix Quântica”.
Todos os Posts sobre o tema estarão intercalados em meio aos outros Posts do Blog.


Bom, antes de falar do assunto propriamente dito, seria interessante assistir ao vídeo abaixo.
Trata-se de um vídeo onde há alguns jogadores de basquete com roupas brancas e outros com roupas pretas. Ambos ficam trocando passes e o objetivo é contar quantos passes são trocados entre os jogadores de roupa branca.
Importante: não continue lendo o texto sem antes ver o vídeo!!!





Discussão:
Você provavelmente acabou não percebendo uma parte muito importante do vídeo, certo?
Entre todas as pessoas que conheço e que assistiram ao vídeo, realmente, todas deixaram este detalhe passar (inclusive eu, logicamente). E a propósito, se alguém quiser comentar o resultado do teste nos Comments do Post, será uma ajuda muito bem vinda!
Mas, afinal, por que isso acontece?

Bom, existe uma explicação mais óbvia e simplista: “eu estava prestando atenção nas bolas de basquete, não nas pessoas”. Mas será que esta explicação por si só engloba toda a extensão da “problemática” apresentada?

Tudo bem, tudo bem... este início de discussão pode estar parecendo aquelas propostas de “Best Sellers” oportunistas e sem fundamento, que dão voltas e mais voltas, “floreiam” o texto até não poder mais, mas de concreto não apresentam nada. Entretanto, gostaria de pedir um crédito e solicitar que leiam alguns Posts mais; e, caso os Posts não estejam agradando, digam-me com toda sinceridade.

E, apesar dos riscos de rejeições, gostaria de propor algumas indagações:
- Até que ponto não estamos deixando escapar, em nosso dia-a-dia, momentos, sensações, objetos, fatos ou qualquer outra coisa?
- Até que ponto o que captamos do meio ambiente é uma percepção fiel da “realidade”?
- Vemos o que vemos porque é aquilo que queremos ver (confuso, não?) ou porque é realmente tudo o que existe para ser visto? (Isso é parte do “problema da medida”, da física quântica, apresentado em Posts anteriores).
- Qual a porcentagem de informações que realmente processamos e guardamos (conscientemente)? Quantas formiguinhas (ou qualquer outra coisa) em seu dia-a-dia você vê, mas nem se dá conta?
- Outro fato curioso: experimentos científicos comprovam que às vezes o cérebro “perde” informações por não ter “salvo em memória” um padrão “pré-absorvido” para interpretar alguma eventual informação visual. Qual seria o nível de coisa que estamos perdendo?

Os próximos Posts incluirão nessa “sopa” de indagações um fator que a tornará ainda mais confusa e intrigante. Quão complexa ficaria a interpretação de mundo se, além das tantas coisas que vemos e não entendemos (ou nem mesmo percebemos), acrescentássemos aquilo que é totalmente invisível a nossos olhos? E se tentássemos entender como nosso “corpo” interage com o mundo envolvendo o nível quântico dos átomos???

Aguardem próximos Posts!

domingo, 1 de novembro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Conclusão









Recomendação:

Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.




Resumo do Post:
Chega finalmente ao fim a série de Posts sobre a crise econômica.
Esta seqüência de Posts tinha como objetivos secundários aguçar em quem os lesse a curiosidade a respeito das particularidades (pelo menos as mais superficiais) da física quântica e da economia (em especial sobre a crise financeira).
Porém, este era um objetivo menor, a grande questão que eu gostaria de levantar são os paralelos entre as mais “recentes” reviravoltas da física e as revisões conceituais que acredito serem necessárias em várias outras vertentes do pensamento humano.

O que vejo é que, no passado, os modelos clássicos da física acabaram influenciando de maneira decisiva a forma como pensamos e, principalmente, a forma como classificamos o que é “intelectualmente válido” e o que é “mera crendice” ou “racionalmente pouco embasado”. E agora, que alguns dos “pilares indubitáveis” da física clássica não parecem tão firmemente sólidos quanto antes, vejo que se abre uma brecha para questionarmos: “quão forte é o material que estamos utilizando para construir o alicerce do pensamento humano?”.

Parece que alguma “pequena” coisa abriu no chão uma fenda que parece estar tomando proporções que não podemos mais controlar.

Vejamos os paralelos entre o estremecimento das bases da física clássica e o estremecimento da nossa estrutura de pensamento.

Only to the braves:
É engraçado (ou não)... a física começou a construir seu alicerce na suposição de que havia uma realidade última, indivisível, impenetrável, inquestionável e inexplicável (no sentido de que não requer explicação, Deus quis assim e ponto final). Mas esta realidade, até então última, foi dividida, começa a ser explicada (apesar de ter trazido mais perguntas do que respostas) e agora abre portas para uma infinidade de questionamentos.Ou seja, o que era sólido se desfez, a solidez anterior parece ser agora apenas um ponto de vista.
E é neste momento, em que o material utilizado para solidificar os alicerces da física parece agora não ser tão sólido, que o solo onde pisamos em várias outras vertentes parece estar se tornando desagradavelmente arenoso.
O próprio Einstein teria dito diante de tantas surpreendentes descobertas que, ao se deparar com estas mudanças de ponto de vista, “foi como se o chão tivesse sido arrancado sob nossos pés, sem que se visse, em lugar algum, qualquer base sólida sobre a qual se pudesse construir algo”.
E parece que não é só na física que o chão parece estar se desfazendo.

Recapitulando, os textos foram divididos em:
Parte I: A ilusão do controle
- O conhecimento perfeito
- O estudo de eventos isolados
Parte II: A ilusão da constância
- O Big Bang
Parte III: A ilusão da independência
- A influência da Reflexividade
- As leis imutáveis

Para finalizar esta seqüência de Posts, irei relembrar quais os conceitos envolvidos, na física e na economia, e em seguida colocar minha opinião sobre qual deveria ser a mudança de atitude mediante a constatação obtida.

O conhecimento perfeito:
Na Física:
Não existe a informação perfeita. Existem apenas as probabilidades, as tendências de acontecimentos, as potencialidades de interações, uma “instrinsiquicidade” da incerteza (ok, ok... esta palavra provavelmente não existe).
Na Economia:
Não existe a informação perfeita. Existem apenas as probabilidades, as tendências de acontecimentos, as potencialidades de interações, uma “intrinsiquicidade” da incerteza (não, não errei na escrita, as limitações são realmente iguais!).
Conclusão:
Precisamos nos conscientizar de que realidade é realidade; representação é representação (ou como diriam nossos filósofos do esporte, “clássico é clássico e vice-versa”).
Um mapa de um terreno pode ser extremamente detalhado e extremamente bem desenhado, mas ainda assim será uma representação. É preciso tomar cuidado para respeitar a incerteza intrínseca de certas coisas.

O estudo de eventos isolados:
Na Física:
Nada acontece ou existe por si só. Tudo é fruto de uma seqüência de interações cadenciadas que culminam em um evento observável mas que, por mais que possa parecer isolável e “dissecável” (utilizar somente palavras que existam hoje parece não me estar sendo suficiente), geralmente não o é. Geralmente, para ter uma exata dimensão do “objeto estudado” é preciso entender as interações que levaram à sua existência.
Na Economia:
Eu poderia re-escrever todo o texto acima, como no item anterior, mas deixo ao leitor o trabalho de voltar no texto da física e relê-lo, porém agora pensando no contexto econômico. Provavelmente a identificação será imediata.
Conclusão:
Sempre que olhar para uma coisa, fato, evento, pensamento, processo, forma de pensar ou de trabalhar, é recomendável procurar os eventos que compõe aquele contexto, quais são as interações que levam a ele. Às vezes uma conclusão que parecia perfeitamente sólida mediante um contexto, parece ficar inaceitável quando expandimos o foco observado.

O Big Bang:
Na Física:
Nos mostra a característica dinâmica das coisas, das expansões e contrações que a natureza (lembrando que não é a natureza no sentido ecológico da coisa) nos traz. Nos faz lembrar da transitoriedade a que estamos submetidos. Expansão e contração, evolução e regressão, queda e ascensão, aceleração e contenção, morte e nascimento.
Na Economia:
Um fato importante (e atual, mas não inédito) nos “jogou na cara” esta natureza. O estouro da bolha imobiliária, que acabou causando o estouro de outras bolhas e que, juntas, ajudaram a estourar uma grande “super-bolha”, um... “Big Bang”?.
Conclusão:
A física moderna parece estar se aproximando cada vez mais da forma de pensar sugerida pelo misticismo oriental. Isto exatamente devido à tendência natural destes místicos a entender o equilíbrio que deve existir nas coisas. Filosofia muito bem exemplificada através do Yin e do Yang da cultura oriental.

A influência da reflexividade
Na Física:
As experiências são resultado de interação. Interação entre eventos e interação entre o experimento e o experimentador. Os atos e intenções do experimentador não podem ser isolados, de modo que não há experimento isento de influência, aquilo que obtenho é resultado daquilo que eu decidi que quero obter. Sem atos e sem intenções as medidas não são possíveis, de modo que sem interação a própria experiência deixa de fazer sentido. Não se pode dizer que a experiência é feita assistindo-a de fora, isso porque na física das partículas não há fora e não há dentro, o que existe é um todo integrado e vivo.
Na Economia:
Essa impossibilidade de assistir aos fatos “de fora” também é perfeitamente válida. E a isso George Soros (algumas vezes citado nos Posts anteriores) chamou de reflexividade. O que penso e como ajo muda decisivamente o comportamento do evento estudado; e a mudança do comportamento estudado definitivamente muda a forma como penso e ajo. Já vimos algo semelhante, não?
Conclusão:
Quase sempre que pensamos estar observando eventos isolados e que podemos agir sobre eles sem que eles exerçam uma influência no sentido contrário estamos nos iludindo. As ações que tomamos influenciam naquilo que pensamos estar isolado, e as alterações ocorridas podem exercer influência sobre nós sem que nem percebamos. Na realidade, creio que geralmente percebemos esses “contra-golpes” sim, mas somos tão confiantes de nossa condição de “isolabilidade” que custamos a acreditar que aquilo que nos ocorre é fruto de nossas próprias ações.

As leis imutáveis:
Na Física:
Provou-se que nem sempre é possível utilizar a abordagem simplista em que, conhecendo-se a situação inicial e os parâmetros envolvidos, podemos prever com exatidão o resultado final. E na física moderna isso é quase impossível. Claro que é possível que daqui a algum tempo conheçamos tão bem o mundo quântico que isso volte a ser possível. Talvez hoje só não seja possível devido a algo que ainda esteja além de nossa capacidade de compreensão. Mas, de qualquer forma, o que ficou comprovado com toda a revolução dos últimos tempos é que não se pode superestimar a capacidade humana de dominar as situações, quando menos se espera o chão que parecia sólido pode começar a se tornar arenoso.
Na Economia:
É ou não impressionante o quanto podemos aplicar as últimas lições aprendidas na física nas reformulações que a crise financeira nos tem imposto? E acredito que esta não é a única crise que pode ser amenizada se nos conscientizarmos destas lições, a questão ambiental, por exemplo, é outra que acredito que poderia ser abordada desta forma.
Conclusão:
As nossas aproximações podem nos ajudar (e muito) a tomar decisões e a agir da melhor forma possível, com base no que acreditamos que tenderá a acontecer. Seria impossível tomar decisões do dia-a-dia levando em conta todas as complexidades e nuances da natureza quântica das coisas, de modo que a comparação com a física quântica, mais uma vez reforçando, não visa invalidar tudo o que foi descoberto até hoje, mas apenas tentar mostrar que temos que ser mais humildes com relação à confiança em nossas próprias conclusões (e previsões).

 CONCLUSÃO GERAL:
Quando me veio à mente o insight do quão semelhantes são as revisões conceituais feitas na física e as revisões conceituais que acredito serem necessárias em tantos campos do pensamento humano, elas me pareceram tão gritantes que decidi que deveria registrá-las (mesmo que fosse só para mim mesmo) e, de fato, talvez seja este o motivo de eu ter criado o Blog. Logicamente tinha a intenção de escrever muita coisa mais (e espero ainda escrever), mas creio que a energia inicial para a criação do Blog veio desta constatação.
Acredito veementemente que, a partir deste pensamento inicial, é possível fazer adaptações para a revisão de diversos conceitos. A idéia daqui para frente é publicar idéias em diversas áreas para que esta revisão aconteça. Acredito que não haverá mais nenhuma análise tão aprofundada quanto esta, acredito que esta análise já deu embasamento teórico suficiente para representar a base que utilizarei daqui para frente.
Espero que pelo menos algum dos textos tenha causado pelo menos alguma reflexão para pelo menos alguma pessoa, isso já teria feito valer a pena todas as muitas horas escrevendo (e todas as muito mais horas pensando).
E assim, chega ao fim (ou ao começo) a discussão sobre a “Crise Financeira” x a “Ciência Moderna”.

sábado, 17 de outubro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Parte III

Recomendação:
Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.

Resumo do Post:
Neste Post será abordada a ilusão da independência. Na física quântica não se pode falar de independência. Nem no âmbito do Experimento x Experimentador, nem no âmbito dos Resultados esperados x Comportamento real.
Neste ponto a economia apresenta uma notável semelhança com a física (assim como muitas outras ciências). Os pontos onde esta semelhança pode ser percebida serão detalhadamente discutidos nos textos abaixo.
Basicamente, as tentativas de fazer um experimento independente, consistem em isolar os elementos do experimento e aplicar a eles fórmulas muito bem definidas e com variáveis que dependam apenas das características presentes no próprio experimento.
Esta tentativa, tanto na física moderna quanto na economia, demonstrou-se totalmente falha.


Only to the braves:
A influência da reflexividade:
Neste aspecto o princípio da incerteza novamente se faz presente. A forma utilizada para obter medições influencia diretamente no que será obtido, ou seja, o observador tem papel fundamental no estudo do “objeto” observado. Não existe hoje, na física quântica, uma forma de esperar, sentado e confortavelmente acomodado, que um experimento científico ocorra para, ao final, ir coletar os resultados.
Além disso, para pavor e arrepio na espinha de muitos cientistas tradicionais, há quem afirme que a consciência humana afeta de maneira conclusiva o experimento que está em execução. Muitos cientistas, como, por exemplo, Henry Stapp, PhD em física das partículas pela universidade da Califórnia, Berkeley, sob supervisão de Emilio Gino Segrè, premiado com o Nobel da física por sua descoberta dar sub-partículas denominadas antiprótons, afirmam que consciência e física quântica têm uma relação muito próxima e, em verdade, talvez a física quântica possa explicar como a consciência funciona e a consciência possa trazer à tona características ainda desconhecidas da física quântica.
O tema dos experimentos necessários já foi abordado “por tabela” nos Posts anteriores, e os detalhes mais técnicos podem ser facilmente encontrados nos Posts apresentados até o momento (principalmente com a ajuda dos links espalhados pelos textos), mas o importante é notar que nada acontece na natureza sem a interferência humana, e nada que a humanidade é capaz de fazer acontece sem interferência da natureza (natureza denotando o comportamento fundamental das coisas, e não o caráter “ecológico” da palavra).
Mas porque esta influência mútua é tão importante na economia?
É simples. Porque a idéia de que alguém (mesmo um economista) pode estudar a economia como se estivesse “de fora” da “experiência” é totalmente ilusória. A expectativa e, principalmente, as ações daqueles que estudam a economia, mudam substancialmente o rumo do que se está estudando.
A forma como o economista (ou qualquer um que se interesse pela área) aborda um contexto muda o resultado que ele obtém, e o resultado que ele obtém muda sua forma de pensar e de agir, e sua ação, por sua vez, muda as características do experimento. Isto é o que afirma George Soros, em sua teoria da reflexividade, mas é interessante notar o quanto isso se aplicaria perfeitamente às experiências da física quântica.


As leis imutáveis:
A física quântica, ao contrário da Newtoniana, não possui um conjunto básico de fórmulas elementares que, com base em dados iniciais, determinem, com exatidão, qual será o resultado final. Este tema também já foi, acredito eu, suficientemente abordado nos Posts anteriores. Mas para este momento, o que precisamos enfatizar é que, na física quântica, o que define os acontecimentos são as interações e toda a rede de entrelaçamentos que elas formam.
E por que esta tendência a adotar “leis” de comportamento influenciaria na economia?
Bom, porque esta “mania” de fragmentar os contextos e aplicar, a cada fragmento, leis imutáveis, eternas e gerais é, pois, claramente uma herança Newtoniana deixada como legado para todo o pensamento humano (sobretudo o ocidental).
Acho interessante aprofundarmos mais esta questão das “fórmulas” aplicadas à economia para entendermos o interessante rumo ao qual elas nos levaram (a todos nós).
No mercado de ações, pregava-se que, basicamente, os valores das ações sempre oscilariam, mas no final das contas o resultado final seria positivo em relação ao inicial.
Foram elaboradas complexas teorias e diversas análises foram coletadas para dar suporte a esta tese.
O valor das ações de uma empresa pode subir ou descer, seguindo ondulatoriamente sobre um eixo temporal, formando gráficos semelhantes ao apresentado abaixo (que é um gráfico do valor das ações da Petrobrás de outubro de 2007 até outubro deste ano).

Os maiores preços alcançados num estipulado período de tempo são chamados de “Topos” e os menores de “Fundos”. Estes valores influenciam o mercado pois são importantes referências de como o mercado reagiu a eles no passado. Explicando um pouco mais detalhadamente, quando as ações chegam a um valor muito alto tendem a não conseguir ultrapassá-lo, pois o “papel” se supervalorizou (tomando como base os valores passados), diz-se que atingiu um ponto de resistência, há mais pessoas vendendo (livrando-se) papéis do que pessoas comprando (querendo para si); de forma semelhante, ao baixar muito seu valor a ação chega a um ponto onde a empresa está sub-valorizada no mercado de ações (também de acordo com análises passadas), diz-se então que foi atingido um ponto de suporte, onde mais pessoas estão comprando papéis do que vendendo. Esta oscilação vai então se sucedendo ondulação após ondulação, formando diversos padrões estudados e catalogados para re-aplicação em situações futuras, predefinindo-se que os padrões uma vez observados irão sempre se repetir. Para citar alguns exemplos de padrões já catalogados (e exibidos abaixo) temos o “ombro-cabeça-ombro”, o “topo duplo”, os “triângulos” de alta e baixa etc.

Associados a estes padrões, temos a aplicação de fórmulas complexas, como a formadora da seqüência de Fibonacci, que pode ser aplicada para, supostamente, predizer a tendência dos valores de determinada ação para o futuro.
Este determinismo ilusório levou à crença de que as ações sempre seguiriam sua tendência e que, apesar das oscilações, o valor médio sempre subiria, o resultado a longo (ou até mesmo médio) prazo seria garantidamente positivo.
Oras! Sendo que o lucro é garantido e, supostamente, mais alto que as aplicações ditas seguras, porque alguém preferiria a boa e velha “conta-poupança”? E mais (e ainda pior), se os juros das dívidas são sempre menores que os juros dos rendimentos (ainda que apenas se considerarmos, no mínimo, o médio prazo), por que alguém deixaria de aproveitar a oportunidade de entrar nesse “negócio da China”? (Lembrando que este cenário ocorreu nos EUA, e não aqui no Brasil, felizmente).
Bom, mais uma vez reforçando, a idéia aqui não é provar que as teorias estão erradas ou que não são aplicáveis. A idéia é conscientizar de que as análises e cálculos são aproximações, e aproximações que dependem de variáveis que vão muito além de nossas percepções, seguindo todas as restrições já mencionadas até aqui.
Mas, para resumir, o que ocorreu é que a crença na alta garantida fez com que todos apostassem todas as fichas neste negócio. Quando a situação se inverteu e ninguém tinha mais fichas para jogar, o resultado foi o único possível: “GAME OVER”.

sábado, 10 de outubro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Parte II

Recomendação:
Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.
Desnewtoniando: Crise Financeira x Ciência Moderna: Introdução


Resumo do Post:
Neste Post será abordada a ilusão da constância, baseada na não-percepção da natureza dinâmica das coisas.
Podemos encontrar esta natureza tanto na teoria sub-atômica e, portanto, no mundo do invisível de tão pequeno, quanto na teoria do Big Bang e, portanto, no mundo do inalcançável de tão extenso, e neste caminho também passando pelas mais diversas áreas como o misticismo, os grandes impérios e, principalmente, pelo tema focado nessa seqüência de Posts, a crise mundial.
O comportamento de expansão/contração (bolha) ocorrido durante a crise já foi visto diversas vezes e, nada mais é, do que um aspecto intrínseco do comportamento das coisas na natureza. A história (e agora a ciência) vem provando que, toda vez que tentamos contrariar essa natureza “oscilatória” intrínseca, ela mesma se encarrega de implantar a semente da transição.
Para uma compreensão mais detalhada desta análise, leia a sessão seguinte.

Only to the braves:
Na física os cientistas estão descobrindo cada vez mais a natureza dinâmica das partículas sub-atômicas. Além do mundo sub-microscópico, este dinamismo parece dominar também o universo, demonstrando que a dinâmica é um princípio intrínseco de tudo o que compõe o nosso mundo.
O Big Bang:
Para entendermos o dinamismo, no que se refere ao universo, devemos lembrar que a ciência, através da teoria do Big Bang, concluiu que o universo originou-se a partir de uma grande quantidade de energia e matéria (que, a lembrar, são na verdade duas faces de uma mesma realidade) condensadas em um único ponto e que expandiram-se como que em uma explosão. Os cientistas estão, inclusive, tentando botar à prova esta teoria, como bem lembrou nosso leitor Rodrigo, com o uso do LHC (Large Hadron Collider).
O princípio básico do Big Bang é um pouco mais bem conhecido, mas o que nos importa agora é um fato não tão conhecido, o fato de que observações indicam que o universo está em expansão, e, algumas interpretações das equações de Einstein, sugerem que esta expansão acabará, e transformar-se-á em uma contração, que se dará até que o universo todo seja novamente um pequeno ponto condensado de matéria e energia formando um ciclo de “expansão-contração” (não sei o quanto isto ficou claro, mas está implícita nessa idéia a inevitabilidade da extinção de qualquer forma de vida, pelo menos da forma em que a conhecemos).
Apenas para citar rapidamente outras correntes filosóficas que reconhecem esta característica dinâmica e sempre transitória da natureza, temos as filosofias místicas orientais. O budismo, por exemplo, enfatiza o “vazio” fundamental que a tudo cria e que tem o “potencial” para formar todas as coisas. O hinduísmo, por sua vez, enfatiza a eterna dança das transformações promovida por Shiva que, de tempos em tempos, destrói o mundo como o conhecemos para que possa ser reconstruído. Mas isso com certeza será novamente abordado em outro Post, no futuro.
O núcleo atômico:
Voltando à ciência, quando analisamos esta natureza dinâmica sub-atomicamente, encontramos forças que unem fortemente os “núcleons”, e que têm, por característica uma forte atração para partículas que encontram-se distantes, porém uma forte repulsão para partículas que encontram-se próximas, criando um verdadeiro “estilingue” de sub-partículas. Este é o comportamento do mundo das partículas que faz com que haja entre elas as velocidades absurdas já citadas no Post anterior (a lembrar, 960km/s), criando duas situações extremas nas quais as partículas ficam oscilando, de forma incomensuravelmente (e inimaginavelmente) dinâmica, de aproximação e afastamento, “contração-expansão”.
Yin e Yang:
Esta natureza dinâmica e de opostos que se equilibram e oscilam eternamente em muitos pontos assemelha-se à natureza de outra filosofia  oriental, a do “Yin” e do “Yang”. Esta semelhança também será discutida em Posts futuros, mas pode ser vista através do fato de que o brasão de armas do renomado físico de Mecânica Quântica Niels Bohr tem o símbolo chinês do Tao yin-yang e acima deste a frase, em Latim: "Contraria sunt complementa" que significa que “os opostos são complementares”.

Apenas para dar uma breve idéia da principal relação existente entre estas duas realidades, a filosofia yin-yang baseia-se no equilíbrio, na geração de um evento através de seu oposto, na oscilação entre extremos, na mudança constante inerente à natureza.  Analisando-se as duas propostas mais detalhadamente (da física e do equilíbrio yin e yang) é possível chegar a paralelos surpreendentes.
Crise x Ciclos naturais:
Ao tentarmos contrariar esta tendência da natureza de re-estabelecer um equilíbrio, e acreditarmos que um crescimento poderia ser eterno e constante, acabamos por cometer mais um dos pecados do reducionismo.
Na história do mundo, diversas vezes pôde-se presenciar impérios que ascenderam devastadoramente (no sentido mais literal possível da palavra), mas todos acabaram por cumprir sua trajetória dinâmica de ascensão e queda.
Acredito que tanto impérios que crescem além de sua própria sustentabilidade quanto empresas, governos, países, corporações ou qualquer outro tipo de entidade tendem a chegar (como expresso pela filosofia yin-yang) à semente de sua própria auto-aniquilação. Parece-me que o que ocorreu na crise foi algo muito semelhante a isso, mercados (como o imobiliário) que se expandiram de forma totalmente não-auto-sustentável através de uma “auto-alimentação” que acabou culminando em uma “auto-destruição”, efeito muito bem representado pelo termo com qual foi nomeado, uma bolha.
Voltando ao misticismo, note que o símbolo de Yin e Yang mostra opostos que se revezam, quem está em ascensão e quem está em queda, e cada um dos opostos trás dentro de si (simbolizado por um pequeno ponto da cor oposta) a semente do “nascimento” de seu oposto.
Penso que, para conseguirmos alcançar transições menos traumáticas (do que, por exemplo, na crise) precisamos começar a detectar quando uma atitude está agressiva demais (comercialmente, monetariamente, psicologicamente, estrategicamente ou em qualquer outro aspecto) para que nós mesmos possamos tomar providências para equilibrar o sistema de forma saudável, antes que a própria natureza se encarregue de “plantar a semente” da “aniquilação e recomeço”. Acredito que esta filosofia deveria ser aplicada muito urgentemente na questão da preservação da natureza, e também em nossa crença fortemente enraizada de que um país só é próspero se aumentar seu PIB todos anos infalivelmente, desconsiderando outros aspectos que deveriam ser muito mais importantes, mas isso também será tema para um próximo debate.

domingo, 4 de outubro de 2009

Crise Financeira x Ciência Moderna: Parte I

Recomendação:
Para a leitura deste Post, recomendo fortemente a leitura prévia do Post de introdução, onde uma explicação básica sobre o tema é dada e também um guia dos Posts relacionados na ordem em que devem ser lidos para melhor compreensão.


Resumo do Post:
Neste Post serão abordados “o conhecimento perfeito” e “o estudo de eventos isolados”.
O conhecimento perfeito é impossível, em primeiro lugar, porque o próprio ser humano é imperfeito, logo está sujeito a falhas de interpretação e a lacunas na formação do conhecimento. Mas, além disso, existe sempre a incerteza inerente ao próprio contexto que se está estudando. Para alguns contextos isto é inevitável, como podemos ver, por exemplo, no princípio da incerteza da física quântica (além do próprio caso da economia mundial, é claro).
O próprio princípio da incerteza, e as formas de experimentos que demanda, fazem com que a “o estudo de eventos isolados” não seja possível.
Estas duas falhas do reducionismo serão exploradas de forma mais aprofundada no texto a seguir.


Only to the braves:
O conhecimento perfeito:
A física quântica constantemente lida com situações onde o conhecimento está longe de ser perfeito. Alguns casos de “imperfeição” do conhecimento humano de fato devem-se à falta de conhecimento dos cientistas com relação a pontos ainda obscuros do comportamento da matéria, como no caso da teoria da relatividade geral de Einstein que ainda não foi totalmente comprovada e, em alguns círculos científicos, não é nem mesmo totalmente aceita. Porém, em alguns casos essa “imperfeição” é dada como uma característica intrínseca do comportamento sub-atômico, onde os cientistas não lidam com a clássica noção de “presença de uma partícula sólida em um dado ponto no espaço durante um dado período no tempo”, e sim com “tendências a existir” ou ainda “tendências a ocorrer”, lidam com probabilidades de posição, ondas de probabilidade.
De acordo com o princípio da incerteza, para saber-se a posição de uma certa partícula, é preciso conviver com a imprecisão de sua velocidade, e para saber-se sua velocidade é preciso conviver com a imprecisão de sua posição.
E como podemos trazer esta percepção para o mundo das finanças?
George Soros publicou também um livro chamado “A Alquimia das Finanças”, acredito que alquimia é uma palavra realmente bastante interessante para definir este mundo.
O que aconteceu quando deixamos de levar em consideração toda a complexidade deste mundo e deixamos que o Reducionismo afete nossa forma de estudar a Economia é que passamos a acreditar que realmente podíamos vê-la em termos de “objetos pré-definidos impulsionados por forças pré-definidas cuja resultante dependia de leis pré-definidas”, quando na verdade isso é uma grande ilusão. Ainda não entendemos certos aspectos da economia para julgar que podemos controlá-la, e, mais do que isso, existe uma natureza intrínseca a ela que a faz incerta (principalmente levando-se em consideração que muitos pontos envolvem a interação humana, que é muito menos previsível do que pregam muitos economistas). Não se pode, de forma alguma, dizer que conhecendo-se a posição atual da economia, os gráficos de tendência do mercado e o tempo de um determinado investimento (por exemplo), podemos prever qual será o resultado final.


O estudo de eventos isolados:
O princípio da incerteza, citado anteriormente, faz com que os resultados obtidos dependam totalmente dos processos adotados na experiência. Não porque os cientistas conduzam a experiência no rumo que estão querendo, mas porque na física quântica o conceito de “fato isolado” se perde, tudo é fruto de interações intensas entre todos os elementos envolvidos no experimento (incluindo o observador). Na física sub-atômica, partículas se criam, partículas se aniquilam, partículas se absorvem, vêm e vão a velocidades inimagináveis da ordem de 960km por segundo. Muitos estudos só são possíveis através de aparatos como o acelerador de partículas, aparato este muito comentado há pouco tempo atrás, quando foi divulgado que um projeto do CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire), o LHC (Large Hadron Collider), poderia “por acidente” aniquilar com a presença da Terra nesse nosso universo. A extensão do alarde que se fez gerou a impressão de que este era o primeiro experimento dessa natureza (um acelerador de partículas), mas há vários outros construídos e em funcionamento, que ajudam os cientistas a desvendar mais e mais os mistérios do universo das sub-partículas, o caso é que este projeto tem particularidades que realmente o tornam especial, mas isso não vem ao caso para o assunto em pauta.
Voltando ao contexto original, o ponto que nos interessa é que na física moderna nada é analisado por si só, nada é isolado, nada tem existência independente. Ao passo que, na física clássica, temos pontos bem definidos dispersos no vazio desprezível (em termos de influência no experimento), na física quântica temos a realidade de que o “vazio” na verdade é apenas uma sub-parte da matéria, ou a matéria é uma sub-parte do “vazio”, a diferença entre “vazio” e matéria é uma questão de energia acumulada (e extremamente dinâmica), representada pela famosa fórmula E=mc2, mas este também é um assunto muito extenso (tanto quanto interessante), e por isso merecerá algum Post particular em algum futuro breve.
Por enquanto, em termos da economia mundial, o que devemos perceber é que pôde-se ver claramente nesta crise que os mercados, nem de longe, são “objetos” analisáveis independentemente, todos eles, de uma forma ou de outra, diretamente ou indiretamente, possuem algum tipo de ligação. Pudemos ver uma crise imobiliária que alavancou sérios problemas entre investidores e bancos, mas logo todo o mercado estava em crise, e não só as grandes empresas, mas também cada uma das pessoas envolvidas no contexto.
Mas, para mim, uma das características mais fortes desta crise foi que, assim como nos experimentos sub-atômicos, não podemos falar em eventos perfeitamente “encaixáveis” dentro de um modelo espaço x tempo bem definido, encadeados em uma seqüência de fatos um após o outro, mas sim, em eventos entrelaçados, ocorrendo tão “interligadamente” que não podemos dizer com precisão onde acaba um evento e onde começa outro, desenvolvendo uma cadência mais parecida, por exemplo, com os diagramas de Feynman da teoria das sub-partículas.
Esta cadência envolve, inclusive, os ditos “observadores”, o que inclui aos economistas mas também a todos nós, que procuramos basear nossas ações em nossas próprias percepções da crise, mas a verdade é que nossa percepção da realidade altera nossas ações, que por sua vez altera a realidade, entrando em um círculo que traz ainda mais complexidade ao circuito, mas este assunto será mais profundamente discutido na Parte III desta seqüência de Posts.
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